estou a iniciar um texto. eu me concentro: e eu sei, eu vou perder um tempo. é como se fosse ter um filho ou fosse decolar, pular de um prédio. passo a ser uma extensão de mim. tropeço, como um bêbado. trago a embriaguez comigo. sou apenas um pacote de receios. sou eu, resguardo.
quarta-feira, 31 de dezembro de 2008
confirmações
a não-espera traz o prolongamento da dúvida.
e que dúvida nos resta?
ESPEREMOS.
segunda-feira, 29 de dezembro de 2008
essência
domingo, 28 de dezembro de 2008
ambígua proximidade
suas fotos, seus diários particulares.
NADA.
a cabine | 2
um sofá vermelho. um chá dançante. o vestido de ana laura traz a tona uma lembrança; então é ele quem carrega um livro velho debaixo do braço: com as páginas caindo e com o sorriso sincero mais estupido do mundo. não existe mais nenhum problema agora, portanto, ele apenas iria pedir para que ela fizesse silêncio, pois tinha o mesmo discurso manjado de antes para lhe dizer; ansiava em subornar as mesmas personagens. o rosto dela ainda embriaga suas palavras, suas roupas, e então sua sutil permanência em sua própria sala de estar. e que se danem os loucos e os poetas desvairados que rasgam restratos para esquecer. james não era assim; e não que fosse lá uma pessoa muito equilibrada também, mas não era assim porque ana laura também não era e, dessa forma, nunca havia chegado a tal ponto de exigir demais dele. apenas havia se conformado com uma situação que se arrastara primeiramente através da horas, que então se tonaram dias, e semanas, e por fim meses. e tanto tempo já tinha passado pelo relógio que os ponteiros praticamente estavam desgastados. gastos pela monotonia pousada sobre a pia da cozinha, assim como aquela pilha de pratos sujos. ele não vinha. e ele nunca mais vai voltar, pensava. nunca! e não por ela ser ruim, ou feia, ou arrogante. mas por ela ser boa demais; e tudo o que nela era maravilhoso atigia o orgulho dele - e bem ele, que precisava provar-se homem o tempo todo! ah, tinha que ser ele, claro que tinha; ele era mesmo um egoísta de merda. então pulou pela janela do quarto e desceu pela escada de incêncio enquanto ele continuava ali, sentado, esperando, perplexo em sua própria sala mais uma vez, jogado em sua poltrona mais confortável com os pés para o alto, como se ainda se sentisse em casa. ainda.
terminou dois dias antes de começar
coisas que se faz | 3
(o olho do outro tem vidro, e a gente se vê acondicionado ali - daí o despero. sair de um lugar que não tem porta, janela, ventilação? o olho do outro é abrigo e cárcere incontestável. talvez daí a preferência também.)
sábado, 27 de dezembro de 2008
delírios | 2
sobre brancos desbotados:
vermelho que se transforma em branco desbotado. desbotar é perder cor forte. e quanto ao branco, quando desbota? será que o branco quando desbota deixa de existir? porque o branco não perde a cor, não desvanece, não descora, não altera a cor. o branco não perde a viveza da cor, o branco não empalidece. então o que faz com o branco que desbota? ou melhor, o que faz o branco, dele mesmo, quando desbota?
parece-me que a deficiência dá liberdade. aquilo que lhe tornar invisível dar-lhe-á liberdade também. mas liberdade de quê? liberdade da NÃO-culpa?
sexta-feira, 26 de dezembro de 2008
quinta-feira, 25 de dezembro de 2008
outros dela
quarta-feira, 24 de dezembro de 2008
em nós, natal
na tal sala, naquela mesma sala das cócegas: natal.
na tal sala do roteiro de um circo: natal.
delírios
que orgulho! que orgulho desse acordeonista! - que maravilhoso seria podê-lo tocar os dedos, os meios, os sentidos! eu me lembro, ele se apresentara formal, e polido. eu me lembro dele, mesmo sem nunca tê-lo visto, eu me lembro de seus arranjos, suas trepidações, sua insegurança nas notas mais jovens.
e tirava as roupas dela, e dizia na segunda voz dele.
eu não lembro! eu não lembro! que desastre! - que importuno seria poder tocar-lhe o corpo, os seios, os sentidos! eu não lembro, ela se colocara a dançar formal, e torcida? eu não me lembro dela, mesmo a avistá-la todos os dias! eu não me lembro de seus tantos rodopios, suas canções favoritas, sua imprecisão com outras melhores e mais jovens... e não me lembro!
terça-feira, 23 de dezembro de 2008
segunda-feira, 22 de dezembro de 2008
ponto de partida
sábado, 20 de dezembro de 2008
a solidão dos grandes
sexta-feira, 19 de dezembro de 2008
coisa de mim
agora, ao invés de olhar no outro o que deveria fazer crescer, o dinheiro do outro dá impotência. aptidão torta, pela metade. coisa de quem não pára para pensar mesmo. e se o tempo não passar, faço questão de passar por ele - e de pisá-lo, arremessá-lo no fogo junto com as pernas, a vida e as pessoas que são maiores do que outras. será que a certeza é assim?
o peso dos anos
- você fez ou não fez estas flores dançarem?
respondeu a mulher:
- eu não fiz nem as coisas simples que sabia fazer.
quinta-feira, 18 de dezembro de 2008
sobre o amor
seria uma discrepância enorme
entre o tormento que causa e, bom, todo o resto.
quarta-feira, 17 de dezembro de 2008
terça-feira, 16 de dezembro de 2008
leve, leve
segunda-feira, 15 de dezembro de 2008
a pior noite, resumida
domingo, 14 de dezembro de 2008
narração
sexta-feira, 12 de dezembro de 2008
Humano, demasiado | 2
Humano, demasiado
Se ela fosse lisa, eu desconfiaria.
quinta-feira, 11 de dezembro de 2008
quarta-feira, 10 de dezembro de 2008
Boemia | 3
Boemia | 2
é o pequeno que ficou gritante
É O PEQUENO QUE FICOU GRITANTE.
domingo, 7 de dezembro de 2008
Boemia
sexta-feira, 5 de dezembro de 2008
todo mundo vai ser junto com você
- as crinaças não tinham os dentes, e a gente só ia no dentista quando tinha alguma dor insuportável. acho que a gente se cuidava pouco porque não tinha muito o que fazer também. hoje SIM eu acho que eu sou moço e que eu não morro - se não morri até agora, eu não sei, mas estou mais do que surpreso, talvez não morra mais. porque há alguns anos quem era moço morria de doença que a gente nem sabia o nome. eles diziam que era coração ou pulmão, porque muito se fumava. é, teve uma época em que fumar era chic, e a gente fazia pose. e tomava dose em cima de dose. e as profissões também eram simples. ou era médio ou advogado. os que arriscaram a engenharia não eram tão bem-vistos ou aceitos. e os artistas? ah, claro. esses a gente nem falava direito. mal se ouvia falar nos pintores, nos atores, nos músicos. engraçado a gente até podia fazer tudo isso, só podia se fosse também advogado. apesar de que uma médico que pintava ou que participava de peças de teatro era estranho - as pessoas achavam que ele tinha uma vida dupla, e não confiavam a ele seus tratamentos. vai ver que foi por ai que a gente começou a ter tanta gente fazendo coisa diferente. e para quê né? tudo isso e os dentes ainda dóem, ainda caem, e a gente ainda morre. é que agora não dá mais para esperar uma vida inteira. a intera vida que eu tinha já está terminando, olha! olha esses dedos grossos e cheios de rugas. olha o meu rosto, meu pouco cabelo! essa barba que mal cresce. e essa barriga que cresce, essa unha que cresce, essa orelha que cresce. e se ficar velho é assim? é, é bem por ai mesmo.
quinta-feira, 4 de dezembro de 2008
seu corpo de tropas
terça-feira, 2 de dezembro de 2008
cortiços
ela tinha um microondas em cima da geladeira e no teto, um vestido de festa - ou de noiva. uma roupa que parece não ter sido usada nunca. um vestido que era feito de lustre. parece que foram testadas centenas de mulheres antes dela. NINGUÉM DIZ TUDO.
ah, os cortiços. os grandes discos de gente.
segunda-feira, 1 de dezembro de 2008
domingo
domingo, 30 de novembro de 2008
das estradas
é o chão que chacoalha.
fica uma grande espreita depois dessa.
parecia um domingo de gato, daqueles que a janela embassa quando se coloca os pregos nos olhos e tira do colo a camisa, a cabeça da noite que passou. os resquísios da noite que passou. talvez algum dia algum sistema mais praticável do que este faça parar de torcer as intenções. as minhas, ao menos, já estão todas dadas. e eu tinha medo de fazer um convite que mais fosse parecer uma imitação. todo mundo já tinha feito aquilo antes. todo mundo ja fez as demonstrações, as doações, as traduções que eu quis fazer. digo, por isso, que descascava as unhas em mim, que fazia amor como se colocasse em estado de pena a minha crueldade. do outro lado, eu percebo o que é devido passa rápido. o tempo é pouco quando se corre - e muito quando se espera. o que é metido passa rápido. e ela se espreme aqui comigo, como se quissesse ver comigo essa passagem da minha desatenção ou da minha preguiça. eu tenho a sensação de ter perdidos as botas no caminho. os cegos no caminho. os dias, as plantas, as tampas, a morte, a sogra, as solas no caminho. eu acho que deixei o caminho no caminho. quanto tempo demanda o tempo? e eu sinto ter deixado a nossa casa na loucura e a minha loucura - A MINHA LOUCURA - em casa. que casa? a nossa casa que ficou no meio da nossa rua? entao eu pensei, eu achei que eu teria que seguir com a minha vida e com a vida que era para ser nossa. nossa. eu lembro, ela trazia nela uma espera. ela pediu desculpa, mas disse que era tempo de ir, assim dessa forma mesmo. talvez o tempo fosse legido por ele próprio.eu vejo que alguma coisa me tira o que eu vejo. e o que eu vejo? eu vejo mais de um sol. dezenas deles, talvez centenas. o humor é uma arte corrosiva. impressionante, impressionante.
quarta-feira, 26 de novembro de 2008
uma tomada de mim
(exceto que eu, de médico, não tenho nada)
segunda-feira, 24 de novembro de 2008
sexta-feira, 21 de novembro de 2008
os silêncios que gritam
terça-feira, 18 de novembro de 2008
multidões | 3
e disse:
e disse o sonho. e disse a porta. e disse a droga. e disse o monstro.
segunda-feira, 17 de novembro de 2008
cinco de seis
um passeio que era um grito.
domingo, 16 de novembro de 2008
das posses
chamava-a linda lua.
e era uma lua amarela.
inflamada.
cheia de pus e de restrições.
e era dela. linda lua dela.
quarta-feira, 12 de novembro de 2008
o grilo
terça-feira, 11 de novembro de 2008
as torres
duas torres
que ao invés de confortarem, a impediam de ver.
domingo, 9 de novembro de 2008
ah, se eu a conhecesse
sexta-feira, 7 de novembro de 2008
fazer das tripas, coração
ontem ela chegou atrasada; hoje, adiantada. como é que eu vou saber então? precisa estabelecer uma ordem para que eu possa concluir de forma nobre o pensamento. ela é a primeira que tem traços grossos nas mãos, traços de terra. e no rosto, uma finesse, uma douçura estrangeira - vinda de cuba, talvez. ela não sabe, mas faz suposições sobre o lugar ideal de onde possa ter vindo - apesar de que o desconhecimento da origem pode fazer com que ela pertença a qualquer lugar. eu acho válido.
os dias estão a se tornar meses. as horas formam semanas inteiras de tempo: é, o tempo voa quando a gente se diverte. então não pela diversão em si, mas pela sensação de divertimento e de êxtase. daquele prazer ligeiro que deixa querer mais. a importância não vem de qualquer lugar. tudo bem, perdoem sua estupidez hoje - mas somente hoje, eu já lhe aconselhei quando a isso antes.
e quanto ao resto, ela está a arrancar meus cílios até. as meias de seda que não uso nunca. a nuca, a sede. as meias, a calça. os olhos de vidro, os sorrisos de plástico. o plastico do maço. o maço. o cigarro. a primeira tragada. o último respiro. a inspiração. a mão, o pé, o braço, o pescoço. as costas e as curvas das costas. as covas das costas. as curvas do corpo. o corpo, ainda que torto. o pouco espaço, a pouca luz, a pouca espera e paciência. necessita do corpo deitado com urgência: nenhum desconto vale tanto a pena.
eu já lhe aconselhei quanto a isso também.
terça-feira, 4 de novembro de 2008
os detalhes: as canecas de café
ela se ajeitou daquela maneira como costumava se ajeitar sempre para tentar dormir. entrelaçava os braços no corpo, como se o contorcesse ou sentisse frio. aposto que ela me deixaria cobri-la com um lençol fino, mas ela dormia tão tranquila e quieta que tive receio de acordá-la. tanta pacificação era massiva e me atordoava. eu precisava fumá-la. torce-la. ou distorcer-me, que fosse. nada havia ficado no lugar: ela simplesmente dormiu e deixou as canecas cheias de café pela metade na pia. eu poderia arranhar as paredes do quarto. eu poderia entregar suas mentiras agora ou acordar sua familia inteira. eu podria publicar os segredos dela como se fossem meus. ela disse que a gente se pertencia de uma maneira estranha, particular. "eu não a conheço", disse. "eu não faço idéia de quem você seja". e ela me olhava planando sobre mim, como se o tempo se encaregasse de nos apresentar em outro momento. eu fiz um silêncio. e ela, como um anjo, encostou-se próximo à janela, à cortina, à pouca luz que tinha e dormiu. ela queria tomar minha única janela. minha única cortina. ela estava ali como se me vigiasse sem me encostar os olhos - e isso me incomodava.
domingo, 2 de novembro de 2008
não precisar pensar
eu tomo decisões o dia todo.
sexta-feira, 31 de outubro de 2008
multidões | 2
você faz parte da gente?
- você sentou no maço, moço.
- eu peço desculpas!
eu faço um esboço: será que você poderia ceder um amigo, ou abaixar um pouco o valor do aluguel? às vezes eu me sinto meio faltante, meio falante. meio grilo. meio inseto gigante no pára-brisa do carro. não pára. mas repara em mim como se eu fosse uma revista - daquelas antigas, que se devora as figuras no banheiro. ah, a gente tem mania de comentar cada besteira. e então dizer vinte maneiras de presenciar uma mesma cena. a mesma cena.
eu vejo que a gente tenta transformar mesa em cadeira,
quarta-feira, 29 de outubro de 2008
fiquei sabendo que venderam votos
-tia, são só dois reais.
terça-feira, 28 de outubro de 2008
multidões
segunda-feira, 27 de outubro de 2008
quinta-feira, 23 de outubro de 2008
sobre ana laura
guardou o caderninho de volta no bolso e cruzou os braços sobre os joelhos curvados em cima do degrau. abaixou a cabeça. notou que ninguém sorria em sua direção – os sorrisos são barulhentos, alarmantes. os dentes rangem quando se sorri. o tempo parece não passar no silêncio, apenas as buzinas da rua interrompem aqui e ali. ela está parada feito degrau de cimento. e está patética como sacola com chocolates e poemas. do tempo que decorreu, seu instinto não chegou a promover nada. deixou que ela ficasse ali sentada como um chocolate de um dólar – seu preferido. nenhuma pluralidade ou acontecimento fora do comum. nenhum exagero, apenas a mesma continência e uma cabeça curvada sobre a coxa, fingindo sono e fingindo a beleza poética que lhe é naturalmente de direito. não queria um documentário da vida, aquela coisa chata; mas uma descrição barata e eficiente. talvez fosse hora de parar de negar seu corpo perante outras pessoas. alguns já nasceram grandes, ela apenas nasceu. e não entendeu o porquê de não poder se sentar em um degrau na rua e esperar. pensa demais. reflete demais sobre si. sobra em cima e dos lados. extrapola-se. tem overdoses dela mesma. então encomenda um novo corpo pelo correio, contorcido em uma caixa de papel pardo – pois que seu corpo magro já não serve para nada. e que inferno: não consegue apenas abaixar a cabeça e dormir no próprio colo. precisa imaginá-la de olhos fechados. precisa fechar-lhe os olhos, tirar-lhe a roupa. precisa de tudo em um segundo, precisa dar mais tempo ao que durou um segundo, ao drama ou à cama mal vestida.
domingo
terça-feira, 21 de outubro de 2008
das trovas
segunda-feira, 20 de outubro de 2008
vive por aí, como dizem
tenho receios em relação aos costumes que tinhamos.
tudo era muito visível - eu posso dizer isso com propriedade.
domingo, 19 de outubro de 2008
sábado, 18 de outubro de 2008
A maneira como dói fazer doer
A minha cabeça está doendo. Eu a sinto doer como doença que não tem cura. Eu achava que doer fosse parte de um processo desconhecido de cura. Eu achava que os motivos certos tinham caminhos errados – mas não. Eu sinto minha cabeça doer como parto lento – eu já tive filhos quando os imaginei felizes. Eu já tive um apartamento pequeno para guardar qualquer coisa que quisesse esconder do resto do mundo. Eu a vejo sempre, aquela menina, como motivo de pausa e de consolo. Eu acho que eu perdi os movimentos do rosto. Do olho. Do canto da orelha. A minha cabeça está doendo. Eu acho que minha garganta secou. Por que tive que partir? Acho que saí de mim. Como que um corpo pode tanto se fazer mal? A minha cabeça dói. A minha cabeça rói a minha idéia. Eu não sinto inveja de mim mais. Eu nem sei mais quem eu sou. Eu acho que eu saí de mim – eu me vomitei. Eu me joguei no chão. Eu me pisei, e tenho me feito tola desde então. Eu queria focar, mas minha visão me parece tão estreita que eu não vejo nada. Eu queria ter coisas maravilhosas para oferecer, mas eu não tenho nada de bom. Eu só tenho dúvidas. E eu tenho uma cabeça que dói. Eu queria deixar de lado ansiedade, decoro, sabedoria. Eu queria não poder morrer de fome. Eu queria parar de chorar um pouco, de vazar um pouco, de transbordar um pouco. Eu queria ser mais para mim, eu queria acabar em mim. Eu queria ser só eu como companhia, já que ela acabou por me deixar também. Eu queria falar mais fácil – eu tenho me engasgado com palavras. A minha cabeça dói muito. Eu sinto de novo meus dedos finos e esse monte de ferida. O tempo não vai curar nada, eu sei disso. Diferente do que se diz, o que não mata não deixa mais forte. O que não mata me deixa com raiva. Eu tenho ódio dessa mania de ser feliz. Eu queria um mundo sem perturbações – ou um mundo em que as pessoas falassem e cumprissem. Eu não quero pena porque eu não sou doente. E só sou grande e não caibo no espaço dentro de mim. Eu tenho idéias espessas, gigantes. Eu tenho pretensão de pensamento, de filosofia. A minha cabeça lateja, expulsa. Eu acho que estou andando em círculos, que estou a fazer tantas coisas e ao mesmo tempo não fazer nada. Esse ano não quer passar. Essa fase não quer passar. Ela não quer passar por mim porque dói. Porque machuca me ver longe, eu sei, me machuca também. O tempo não vai curar essas feridas de hoje, hoje já está eternizado. O tempo parou durante a ausência que eu tive. Eu me sinto cega. Eu perdi meus movimentos do corpo – meu coração está pulsando para nada. Ela me ocupou inteira. Eu morro de saudades do tempo que eu dei para ela porque ele passava diferente. Eu sinto falta da demora. Da espera. Do significado das horas. Eu lhe dei horários específicos. A minha cabeça dói muito mais agora, quando eu lembro. Agora eu entendo como dói fazer doer. Como é ruim exemplo dentro de exemplo. Como é fácil saber o final da história. Como é impossível aceitar – fala-se tanto de aceitação, mas e depois? Provavelmente não se vai aceitar – pois bem, erro em cima de erro. Estrago sobre estrago. De mim, nada. A minha cabeça dói como chuva. Como nuvem. Como prazo que não termina. Como beijo de despedida. Dói como objeto. Como faca. Como desculpa. A minha cabeça dói como orgulho. Como sexo de graça. Como amor de graça. Como esmola. Dói como incomodo constante, como pedra no calcanhar, no rim; como pensamento que não cessa. Dói como o sorriso dela de dor. Como a cautela. Como disciplina. Dói como o medo de doer. De tentar. De salvar alguém. Dói como permanência. Como paciência. Minha dor é simbólica, violenta. A minha cabeça dói.
sexta-feira, 17 de outubro de 2008
eu me lembro daquele mês de julho
terça-feira, 14 de outubro de 2008
minhas teorias são fundamentos | 2
c,
fique bem.
eu te amo.
n.
segunda-feira, 13 de outubro de 2008
minhas teorias são fundamentos.
domingo, 12 de outubro de 2008
eu nunca escrevi tão rápido
você precisa ir embora agora.
eu já fui embora.
e você precisa ir embora também.
sábado, 11 de outubro de 2008
quarta-feira, 8 de outubro de 2008
terça, insana
_
dos mágicos:
a platéia sabe a verdade, mas está lá porque gosta de ser enganada.
terça-feira, 7 de outubro de 2008
de alguém
eu sei que você está machucada e preocupada. eu consigo sentir isso em você. mas você precisa parar com isso agora. eu quero isso terminado. eu realmente quero. eu estou cansada, meu amor. eu estou cansada de estar nessa estrada, sozinha como papagaio na chuva. eu estou cansada de não ter um amigo para estar junto, para me contar aonde estamos indo, de onde viemos ou por quê. mais ainda, eu estou cansada de pessoas sendo feias umas com as outras. eu estou cansada de toda a dor que eu sinto e ouço todos os dias no mundo. existe muito disso mesmo. são como pedaços de vidro nos meus ouvidos, o tempo todo.
será que você não entende?
lúdico
foi como se eu tivesse tido uma ausência ;
um vazio de tempo. eu não me lembro de nada.
depois de mim, EU jamais serei a mesma.
recalque
achava que os sonhos poderiam ser curados com televisão:
- estava errada.
sobressalto
essas ondas também submergirão você. e eu, logo em seguida.
-tão imersa em pensamento: ainda que tivesse chorado, não teria percebido. quase coloquei na mala as ondas de rádio - a voz.
estava certa disso.
sinto que vale a pena ser radical nesse aspecto.
livre-se de mim, eu já estou livre.
no fundo
alguma fala?
é, pode ser.
eu tenho um artigo.
ah.
um artigo de jornal.
um recorte?
um recorte.
uma notícia?
sim, uma tragédia.
então foi uma tragédia?
eu fui.
e eu?
você ficou.
segunda-feira, 6 de outubro de 2008
quinta-feira, 2 de outubro de 2008
qualidade do que tem dois valores
doses, cápsulas e pequenas tragadas.
- nenhum tempo.
ingeria, mas não digeria nunca.
fome. vômito.
- nenhum tempo.
medo.
medo.
- quanto tempo?
- nenhum tempo.
equivalência: ambivalência.
quarta-feira, 1 de outubro de 2008
você não pode parar o que começou
segunda-feira, 29 de setembro de 2008
de você, meu amor
-falarei por sexta.
esperá-la chegar era um prazer. agora é uma agonia.
e mais uma agonia? INSÂNIA, não sei ao certo o termo.
uma insensatez ridícula. imprópria, vazia.
outra maldita espera que se prolonga mais que o necessário.
o que seria inventado o suficiente para continuar?
eu me sinto impossibilitada de tirar outro sonho.
(eles vão me odiar para sempre. meus sonhos vão me odiar para sempre.)
e que sempre mais breve para se odiar, não?
parece pouco para quem vê. assimila-se a nada.
quem vê de fora não vê nada do que eu vejo.
INSÂNIA.
eu me sinto tonta. a vacilar-se. tornar-se louco, resumir-se a pouco menos que cem gramas - eu sei, eu mesma contei. divorciar-se.
e então casar-se com um futuro arranjado. vão achar que eu sou idiota. ou nem vão achar que eu existo.
é possível falsear o cenário?
é possível falsear o cenário.
eu queria tirar a cabeça e os ombros. existir dali para baixo. gastar o chão de tanto andar em cículos e então expulsar-se da própria órbita, densa e poética como os feixes de luz dos lábios dela.
redimir-se por um propósito?
que propósito?
que mérito?
que honra?
É UMA AGONIA.
sexta-feira, 26 de setembro de 2008
quinta-feira, 25 de setembro de 2008
ah, seus cabarés
ela fazia como um passeio de botão em botão, com pausas para goles de café e intervalos de tempo. pois que tempo suficiente para que rediressionasse o olhar para o pálido do corpo que se mostrava breve e contínuo, cada vez mais. amanhã não vai existir, eu pensava. amanhã vai deixar de existir para sempre. assim prosseguiu o legado. a troca de olhares de olhos que se multiplicavam: havia uma multidão a olhá-la. imaginava ser uma invasão. diabos, nem mesmo o mais íntimo e depravado ato do amor tinha privacidade. da janela, a luz. da luz, os escombros. e os tombos nos joelhos finos. ela se equilibrava meio vareta, meio mulher. meio criatura mística e uma outra metade, a menor metade de todas, meio exaltada. enamorada.
ah, seus cabarés.
ela quase nunca entrava e ela quase nunca deixava de estar. nunhum movimento lhe fazia jus; naquele instante de sexualidade simples, a culpa era ainda mais íntima do que poderia supor. a culpa era uma deslexia. uma contemplação em falso. um testemunho revogado pela pouca idade que tinha. ocorreu-lhe uma lembrança, uma sensação como uma inflamação constante e débil que emergia pela pele. NÃO FARIA PLANOS, NÃO SE PERMITIRA TANTO. não se permitira nada, aliás, após um decoro. ela abateria os brios, eu pensava, caso descobrisse quem eu era ou o que fazia ali. a nudez era uma colocação social na realidade. não faria sexo (entenda aqui com clareza), se não tivesse necessidade de se posicionar socialmente. era exatamente o que pensava. e os pensamentos dela apressavam-se e, logo que ela descuidasse, tentavam tomar a forma de seus braços. e pernas. e queixo. e quinas. e emergia de sua pele, como outrora, entupindo os poros, a racionalidade.
só precisaria de dois minutos, e tudo aquilo estaria acabado.
ah, seus cabarés.
segunda-feira, 22 de setembro de 2008
C
mordia minha mão inteira e então sorria, com aqueles olhos pequenos e fundos. olhos de um desejo subalterno e silencioso. seu olhar era o olhar mais adjetivado que conhecia. tudo estava contido nos olhos dela, como um céu, nos dias de tempestade. parte de mim transbordava em certas linhas de tempos em tempos e nada me interessaria, a não ser a eterna preocupação em relação a seu comportamento de dependência.
não mais breve do que previ, deixei-a. sentada, cansada. e deixei que repetisse os mesmos verbetes que lhe disse quando devastei meu gostar declarado por ela. achei que poderia comentar sobre sensações menos propícias do que esta, mas esta é a única sensação de que me lembro. tentava evitar fazer uma comparação literária, entretanto, não tinha outra possibilidade para defini-la. ela também tinha olhos de ressaca, machado. agora sim entendo o que eram e o que fizeram comigo. era mesmo uma ameaça. ela me puxaria, me tragaria, me arrastaria para dentro dela, INEVITAVELMENTE.
quarta-feira, 17 de setembro de 2008
escassez
silêncio, gostar calado.
cegueira.
arrogância.
eu não vou conseguir. eu não vou conseguir. eu não vou conseguir. abrir mão outra vez? eu não vou conseguir. eu já passei do limite. do extremo. do possível. do humano. do carnal. QUANDO É QUE VOCÊ VAI ESTAR COMIGO? eu não quero ajuda ou salvação. terapia. choque. pena. briga. bronca. descaso.
(caso ou não caso?)
eu já morri afogada nessa agonia constante, nesse estado de guerra perene dentro de mim. e essa batalha não é lá fora: esse lixo é meu.
ela é oitenta, vocês são oito. e eu sou puxada com força de um lado para o outro.
esticando, deformando.
esticando, deformando.
esticando, deformando.
esticando, esticando, ESTICANDO.
e deformando outra vez.
-DEFORMAR v. tr, do lat. deformare: alterar forma de; desfigurar; tornar desforme.
meu espelho não reflete nada. não vejo. não me exergo um palmo diante do nariz: eu não me encaixo em nada. não pertenço a lugar nenhum porque tudo me encomoda e me inquieta. minha avaliação não me permite nada. AH, MALDITA FELICIDADE COMPRADA, DESONESTA.
-DESONESTO fem. sing de desonesto. adj,: impudico; devasso, indigno.
felicidade bilateral, daí sua impertinência. sua incompetência. sua carência de tudo - dificil dizer-se plena em que consiga estabelecer-se de fato. esse lixo não é meu.
terça-feira, 16 de setembro de 2008
segunda-feira, 15 de setembro de 2008
nervos e torradas com geléia
será necessário decretar o óbvio?
eu acho que vou fechar.
-essa mania de poetizar tudo.
não me venha com grosseria, caso contrario, sairei.
não me venha com grosseria, caso contrario, sairei de novo.
e sairei outra vez.
sairei quantas vezes forem necessárias.
como diz:
a porta da rua é serventia da casa.
passei um copo d'água.
e um outro de nada.
sexta-feira, 12 de setembro de 2008
diagnóstico de cor, e de corpo
e não. não está nada claro: o diferente acanha.
eu poderia arranhar todo o rosto e me mostrar para o mundo que você diz rosa. engraçado, sequer rosas são rosas. a conclusão que se chega é a seguinte: mentira. quem vende aceita vender mais? parece lógico que todo mundo vai preferir um computador a uma máquina de escrever? o diferente acanha. eu poderia agora arrancar meu rosto e me jogar no mundo só corpo. eu não consigo me concentrar. nem digerir. nem ingerir nada. não almoço há dias. tudo me embrulha o estômago. e me enjôa. e enjôa. e me vomita. eu mesma me vomito e me regogito nas próprias mãos, escorrendo pelos dedos, nojento e sujo, feito areia, nojento e sujo.
você desiste de um pelo outro? eu faria uso indiscrimidado do sexo, recreativo. mas os beijos sei que vão me pinicar. sei que a lingua terá espinhos e os dentes, crateras. que os lábios formarão pequenas giletes. as vertebras serão espadas. e as espadas, as armas, pétalas.
diz-se.
precisaria se ajustar.
(mas é totalmente desajustada)
diz.
meu juízo é uma aparência, entenda.
quinta-feira, 11 de setembro de 2008
quarta-feira, 10 de setembro de 2008
não me vejo
terça-feira, 9 de setembro de 2008
alternância
estava achando pequeno e barato, mas na realidade era só um contrato breve de trabalho. eu achei que poderia tê-la consebido sob um novo ponto de pespectiva, mas, não. outra vez, não. estão enrolando por algum motivo. eu, há pouco, comentei que o estado das coisas deveria ser reavaliado. e de fato foi, entenda novamente. todas as 3 coisas que criei fazem parte de um novo círculo. ou de um pequeno cubículo de mentes. inflamo.
recebi uma carta de prestação de contas, como um banco de débitos apenas. descontaram 15 e agora mais 7. estranho, sou só uma. pensei ter guardado as notas no bolso, e os bolsos na calça. as calças no armário e o armário no quartinho dos fundos: lugar que não mexo nunca. mas, pelo jeito não. outra vez, não. reclamo.
então nota-se um padrão. uma construção que tenta fechar um novo estilo. e que tenta se estabelecer ou ao menos embelezar. eu achei que era uma pessoa importante, premiada. sabe, dessas que passam na rua, e os outros 6 sentados no bar reconhecem e chamam pelo nome - ou pelo sobrenome. uma besteira. eu queria ser reconhecida por bêbados de grandes teorias socias. inflamo.
repito uma idéia como uma martelada constante. ou como água que ferve. ferve. ferve. e continua a ferver até atingir o máximo. e então some. some. some. evapora, até deixar de existir. breve, reclamo.
e volto a inflamar.
quarta-feira, 3 de setembro de 2008
a casa na árvore
agora você sente o impacto?
nossa cidade mudou muito.
você pode até criar um costume, mas não é perfil.
quinta-feira, 28 de agosto de 2008
quarta-feira, 27 de agosto de 2008
sua morte, sua vingança
- o que você está fazendo?
- estou morrendo.
segunda-feira, 25 de agosto de 2008
tudo
quinta-feira, 21 de agosto de 2008
Mr. Cook
quarta-feira, 20 de agosto de 2008
apenas constata que some
e some.
e some.
some.
(eu sumo. impossivel não sumir.)
terça-feira, 19 de agosto de 2008
você é quem deveria ter vergonha
você é quem deveria ter vergonha.
segunda-feira, 18 de agosto de 2008
sexta-feira, 15 de agosto de 2008
quarta ela me deu um buquê
-tadinho do buquê, todo esmagando dentro da minha mala.
meu primeiro dia
inicialmente, o que deve ser feito? pensa estar a andar em cículos. pensa estar a perseguir os próprios rastros que deixa. os próprios restos. as próprias sobras que deixa pelo caminho. na
outra, talvez, passará. com sorte também ultrapassará seu máximo, sua idéia de felicidade plena. ela queria dirigir cidades especiais.
e você?
ah, você quer os restos? você quer aquilo que ninguém quer pelo simples fato de se auto intitular resto? BOBAGEM. bobagem completa. bobagem completa de um status que não posso comportar. assim, não me comporto. nenhum dia mais será preciso. este primeiro me basta por hoje. então, perdoem o atraso de minhas idéias hoje. mas somente hoje.
quarta-feira, 13 de agosto de 2008
desconhecida mulher
pois que me surpreende que isso ainda me ocorra, vez e outra. por que todas as vezes que insisti na diferença, obtive sucesso? é impossivel, percebo agora, que idéias iguais se sobreponham. diga seu método e o descreva com detalhes, - solicito. a obsessão é um jogo para jovens. assim, desconhecida mulher, eu já nasci dessa forma, com cento e dois anos nas costas. com oito dias por semana. treze horas por dia. poucos dias por mês e nenhum ano novo a me contemplar. eu achei que poderia pagar a conta, abraçar a causa, arcar com as conseqüências. mas, não. essa vida é só uma fantasia. um prévio ensaio de qualquer coisa. uma atrocidade, um mistério do "arco da velha". eu, sinceramente, acho que diz a verdade - todavia, não consigo confiar com plenitude ou sossego. ela prometeu sua fidelidade - não a mim, entenda, mas às promessas que fizemos enquanto sentadas sobre o tapete da sala. deveria esperar sua presença? estava a deduzir que ela estaria desaparecida, deconhecida.
domingo, 10 de agosto de 2008
pela sensação de poder algo
eu queria ser um velho gordo, pronto para morrer. eu queria ser uma avó que não descasou nunca, ou então uma velha que casou sete vezes e ainda tem pique para ir ao supermercado para comprar vidros de pêssegos em calda. é, eu sempre odiei doces de compota. para falar a verdade, nem de chocolate eu gosto muito. eu gosto é de cerveja e cigarro. eu gosto da companhia dela, durante a semana. gosto da sua ausência aos domingos. e da sua incessante marcação aos sábados. eu gosto do cheiro do seu cabelo. do formato das suas mãos. da construção das suas palavras. não tem como, eu sou passional demais e o fato de estar com alguém exclui automaticamente qualquer outra pessoa. eu achei que minha paciência havia mudado, mas não. eu ainda vou me incomodar muito.
constato, assim, que a última hora é a que demora mais para passar, pois que carrega com ela toda aquela expectativa do final. e as pessoas gostam de se sentir próximas uma das outras - sabe, uma espécie de linha funcional que conduz as relações.
eu sempre sei que vou sentir muito quando falar com ela. eu sei que vou vazar litros de mim. é, deve ser isso. eu queria, por vez e outra, recomeçar, passo a passo. eu deito na minha cama e dali a cinco minutos ela já vem me perturbar. adivinha tudo como sempre tenta adivinhar. e eu tento ser uma mulher fina, mas não dá: sou tão criança quanto fui um dia. é, acho que deveria poder sair por aí falando verdade, todavia, devo conter-me apesar, ainda, da vontade que me toma e que insite para que eu o faça. não se trata apenas de não fazer. isso não ter nada a ver com não fazer. é, você simplesmente sabe quando estão falando de você. porque você para como um animal e resguarda-se. um animal forte, mas de cabeça grande e burra.
às vezes não consigo me sentir funcional - é, não vai dar certo. você acha que pode sentir quando estão se aproximando, mas a verdade é que não pode. então qualquer tentativa, que não a de tirá-la do pensamento, passa a lhe parecer estúpida e em vão. poderia combinar passeios, mas não. à meia noite devo estar em casa. eu durmo sempre acordada. outra vez, o animal. e se eu chegar e ela chegar primeiro? ou e se ela chegar e, não me vendo, for embora? ah, que rude da minha parte idealizar assim, tão pequeno e contido. precisava de uma imagem para se reerguer. e então outra para que possa se estabelecer definitivamente. não tem mais modos, nem sonhos próprios. apenas um cartaz de seu filme favorito, como símbolo de suas memórias. ou um símbolo final de comoção de idéias, de abstração e de sussurros amorosos - não turbilhantes, apenas amorosos. poderia dizer então que nenhum rancor que sentisse seria forte o suficiente: às vezes a gente se bate mais que o necessário. de repente, eu até consiga finalizar um projeto, mas o tempo insiste em me desejar inteira e em me exigir atenção completa. não há pudor nos divinos momentos. essa gente não precisa de qualquer ensino.
e não, você não entendeu.
eu não lhe desejaria tudo, mas apenas o pouco que posso desejar: saúde. espero que esse soluço passe. que o tropeço passe. que a recruta passe, mas que não passe a agonia. o desespero. a trepidação do corpo sobre a cadeira em frente à mesa. eis algo que lhe impulsiona para frente. e joga. e revoga. mas não abandona jamais. eis que lhe corta as pernas: mas a cela jamais. eis que lhe dá suficiência. autonimia. dicotomia. PODER.
e não pelo poder, mas pela sensação de poder algo.
quinta-feira, 7 de agosto de 2008
o arrepio
tinha um bicho a vasculhar seu corpo. e este entrava pelas mãos e pelos rins. um corpo dentro do corpo ou uma nova contratação. poderia ter sido qualquer outro, mas não. rodeava as suas entranhas e dava um soco no coração, vez e outra.
falava enquanto soltava a fumaça:
eu te amo.
EU TE AMO.
(como se tentasse ainda tornar crível a mensagem)
subiu. subiu.
o ato de fumar lhe remtia algo poético.
decadente.
genial.
quarta-feira, 6 de agosto de 2008
notas | 3
e que merda de vida para se imitar, não?
eu, ciúme
não entende e também não quer depender dela. ela jamais dependeria. tem medo. resguarda-se. então guarda no bolso os planos que fizeram, como se fossem doces de festa que se leva para comer mais tarde. talvez seja cedo para as coisas que não se faz com freqüência. ou talvez seja apenas uma falta de inspiração momentânea. qualquer história não justificável.
bate no peito, exigindo respeito. postura de si. como poderia se deixar levar assim tão fácil? achou que as melhores coisas da vida não fossem simples de se descrever, contudo, estava enganada. era horrível. e era tão tremendamente horrível que lhe subia um gosto de azedo pela garganta toda hora que tentava dar inicio à prosa. não havia, de fato, qualquer prova contra seu corpo. pensou que poderia tratar da tragédia como um incidente, mas prefere não comentar. só volta a dar voltas nas mesmas palavras, como que animais já mortos e secos. seus lápis são como pequenos gravetos de grafite. suas folhas são como panos de chão. e seu chão, um chão sem teto. sem nada que proteja ou que acolha. apenas um tapete velho de memórias que são retalhos. apenas um punhado de tampas de cervejas jogado no canto, como poeira mal varrida.
queria sumir desse mundo agora, ah, a leve com você, ciúme. e então a tire daqui, a arranque dessa casa. dessa cama. desse beco sem saída. desse cárcere amoroso. dessas vidas que estancam seu corpo. não quer ser a decepção de ninguém, a não ser a dela mesma. que tosco.
terça-feira, 5 de agosto de 2008
tranqueira
segunda-feira, 4 de agosto de 2008
segunda, dia de reencontros
sexta-feira, 1 de agosto de 2008
enfim, um fim.
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09/dez/07
quinta-feira, 31 de julho de 2008
explicação
onde será que eu arrumei essa sujeira?
estou a maquinar sobre erratas, e sobre errados.
não sobre situações que induzem, propriamente, ao erro.
mas, sobre o erro, em si.
comuniquemos.
agora fez-se problema
então saí de casa, a pretexto de não voltar mais: se ficar, eu enlouqueço. eu enloquecerei em mim, depois de você, INEVITAVELMENTE. eu repito as conversas que tivemos e não encontro sequer um momento específico que justifique essa ausência. romper com um comprometimento não é apenas romper, é tornar desinteressante. eu achei que minha vantagem era ter conseguido olhar para você sem que meus olhos se fixassem. mas não, eu estava enganada. você fez com que eu me apaixonasse por você, e agora, ah, agora você quer ir embora. e você vai de um extremo a outro, de um dia para o outro, me deixando no meio, me deixando ser puxada por você e para as direções contrárias para as quais você corre. acho que não obtive respostas, nem qualquer tipo de reação: eu temo acabar em pedaços pelo seu caminho. eu apenas me desloquei rapidamente, tentando acompanhar ser ritmo. eu disse que lhe gostava também. eu quase morri de preocupação naquela noite em que você me ligou e sua voz mal saía, eu mal conseguia ouvir você, porque seus bronquios não estavam suficientemente dilatados. eu não dormi, preocupada. e acordei no dia seguinte, com você dizendo que a minha voz lhe acalmava. mas que calma, que nada. essa mentira não vale a pena.
eu queria de volta os planos que fizemos.
os dias que passaram.
proximidade: AGORA FEZ-SE PROBLEMA.
doer depois
todas as vezes que INSISTIU que me gostava:
é, eu vomitei todas elas.
quarta-feira, 30 de julho de 2008
vinte anos velha
um motivo de chacota - chacota:
tal palavra lhe cheira naftalina.
e então, dentro dela, certa desobediência emocional.
a outra
passo uma das pernas por debaixo da outra. e repasso. e novamente o impasse de sempre, mas essa noite, em particular, seu corpo não me faz companhia. não sinto sua presença, nem sua respiração. nem mesmo o chão do quarto, antes com suas roupas e óculos jogados com confetes de carnaval. nem festa, nem nada. apenas o silêncio de uma noite que não passa. de uma noite que não tem por onde passar, uma vez que seus caminhos já estão de cheios do corpo da outra - não, isso não é um elogio. noutra posição, quem sabe, qualquer intenção de dormir. de pegar o sono e abraçá-lo forte, como ela costumava me abraçar, de forma a não de deixar sair jamais. teimo dizer-lhe: não diga que me ama - você nem sabe o que isso significa. o amor não é pendende, nem dubiativo. o amor é uma impertinência excessiva. não me ame caso pretenda deixar-me. amar não é saudavél.
já passava da meia noite quando me dei conta do ocorrido: hoje estamos a celebrar sete dias. uma semana: sete vezes seguidas de ligações e pendências. às vezes não preciso sequer propor brigas: o destino propoe brigas por nós. é, meu anjo, não tenho tempo para julgar seus extremos como gostaria. eu vivo a fazer emendas com os minutos que me sobram. dedicaria minha vida à você, caso dedicasse até suas dúvidas a mim também. outra vez, metade de você não me serve. e que merda, achei que não passaríamos de novo por isso. mesmo depois de sentar e lhe explicar os densos riscos da poesia, ainda insisto em tratá-la como uma de minhas personagens. digo-lhe frases poéticas em meio a nada ou a qualquer situação.
eu me confundo comigo.
não sei, não consigo.
ainda que tentasse me colocar plenamente sou pequena para essse espaço que me pede. então eu mesma penso em lhe conceder esse espaço, essa distância de pensamento entre nós. ainda que longe, ela parece estar a me rodear o tempo todo. sabe exatamente o que faço, adivinha minhas frases e a forma como mexo no café, enquanto concordo com suas dúvidas. ela sabe a hora que eu quero acordar, que saio para trabalhar. sabe a hora que não trabalho durante o expediente, ainda que sequer tenha pausa para almoço ou lanche. sinto que me conhece sem saber quem sou realmente. assim como em relação a ela, qualquer conceito sobre mim é precipitado. é extremo. é demais. é pesado demais. e tudo se torna, automaticamente, perseguição de instante seguinte. o que se efetiva em um momento, reparte-se no outro. assim, não me ocorre outro desfecho senão este: tempo, ocasião própria. passemos adiante tal cordialidade.