quarta-feira, 6 de agosto de 2008

eu, ciúme

não tinha ciúmes, porque já era FEITA de ciúmes. morreria caso a visse com outra nos braços, nas pernas ou no rosto. as brincadeiras eram apenas uma forma de se distrair, de se defender de terceiras; uma vez que qualquer fraqueza ainda lhe causa inflexibilidade. trava seu corpo e faz seus ossos baterem, uns contra os outros. poderia se contorcer inteira, estralar inteira que, ainda assim, não teria sequer uma única solução que pudesse justificar o quanto realmente a gostava. mas hoje, em particular, não sente aquela empolgação em suas palavras. não sabe, não sente. talvez seu máximo estivesse exposto, posto como um tijolo velho perante seus pés, exigindo qualquer prévia confusão. talvez já tivessem esticado tudo o que poderiam ser porque já haviam, mesmo, sido. algumas histórias não pussuem pontos finais, apenas pausas para café. e então continuação da leitura. e a releitura. releitura. e o mesmo rodeio de idéias e de sentimentos fracassados. sabe-se lá o por quê, mas também nunca chegou a esquecê-la como um todo. o desejo que tem seus objetos ausentes não termina nunca mesmo. novamente ninguém perdoa os delirios de um grande amor, ou de uma paixão desvairada. talvez estivesse a se afobar demais. ou talvez ainda não tenha tido tempo para o tempo que precisa: o tempo que ela havia lhe prometido recua para longe. aqueles meses, noites. aquela tarde e aqueles dois anos. aquela vida inteira pela frente. é, ela havia lhe prometido tudo aquilo.

não entende e também não quer depender dela. ela jamais dependeria. tem medo. resguarda-se. então guarda no bolso os planos que fizeram, como se fossem doces de festa que se leva para comer mais tarde. talvez seja cedo para as coisas que não se faz com freqüência. ou talvez seja apenas uma falta de inspiração momentânea. qualquer história não justificável.

bate no peito, exigindo respeito. postura de si. como poderia se deixar levar assim tão fácil? achou que as melhores coisas da vida não fossem simples de se descrever, contudo, estava enganada. era horrível. e era tão tremendamente horrível que lhe subia um gosto de azedo pela garganta toda hora que tentava dar inicio à prosa. não havia, de fato, qualquer prova contra seu corpo. pensou que poderia tratar da tragédia como um incidente, mas prefere não comentar. só volta a dar voltas nas mesmas palavras, como que animais já mortos e secos. seus lápis são como pequenos gravetos de grafite. suas folhas são como panos de chão. e seu chão, um chão sem teto. sem nada que proteja ou que acolha. apenas um tapete velho de memórias que são retalhos. apenas um punhado de tampas de cervejas jogado no canto, como poeira mal varrida.



queria sumir desse mundo agora, ah, a leve com você, ciúme. e então a tire daqui, a arranque dessa casa. dessa cama. desse beco sem saída. desse cárcere amoroso. dessas vidas que estancam seu corpo. não quer ser a decepção de ninguém, a não ser a dela mesma. que tosco.

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