domingo, 22 de julho de 2012

eu morava em um aquário. bebi toda a água

a urgencia visceral do amor.
a prepotencia desumana das relacões que acontecem para além
da
superfície. 
a dificuldade na falta de referencia. 
a pior coisa do mundo é ter uma grande idéia e não saber passá-la
a displiscencia da vontade contra as lacunas inevitáveis do desejo. 
ou o desejo nas lacunas inevitáveis da paixão, 
de alguém que teve muito amor para dar na vida. 
é tão dolorido crescer
e para as dores de quem cresce, 
a certeza de que a dança é 
definitivamente 
a forma mais imoral de aproximação. 
uma fração de segundo. 
visualmente, uma fração.
a impossibilidade de tirar os olhos. 
a imagem dos corpos deitados um sobre o outro. 
FRACIONOU-SE
fraseou-se com outros em seguida. 
o amor. 
o liquido.
o amor é liquido?

sexta-feira, 20 de julho de 2012

CARTA PARA ALGUÉM BEM PERTO


OWL GIRL,



os mais novos costumam achar que podem tudo e que os outros não podem nada. a minha idade? eu ainda não entendi. mesmo que o amanhã já saiba tudo sobre mim e sobre você, que encantamento bonito é o de ser surpreendido. olhar é educado e a lucidez é quase engraçada. e dentro deste instrumento de pressão que a idade produz sobre nós, eu achei que quando as pessoas tinham intimidade de fazer coisas da vida cotidiana, sem que houvesse a preocupação da figura impecavelmente apresentável, tudo seria natural e simples. nesse pensamento, talvez eu tenha me iludido um pouco. talvez tenha descoberto que desconheço a sabedoria da pele, e daí, nas razões suas de outro dia, junto as minhas tentações claras de ontem, essa intimidade talvez ainda estivesse acontecendo pra mim. entenda, não funciono no modo automático. não direciono sem que a minha cabeça alinhe-se ao meu corpo, e portanto ao corpo do outro. um beijo é muito íntimo. e se você decora um olhar, isso é um conhecimento, e não uma intimidade. sou orgânica e preciso de paciência. preciso de concentração, tanta. preciso do cheiro, da respiração, dos olhos. porque não era só uma boca, não a olhei uma vez, duas, não usei as quatro pernas em vão. busquei aquelas sensações mínimas que se sente correndo pelo meio das costas, subindo pela barriga... algo que fizesse até os pelos finos do braço se arrepiarem. eu preciso de concentração para saber, para sentir onde seguro você e em quais lugares a solto. por onde posso puxá-la, em que lugares você resiste e, ainda assim, insista que eu vá. tenho umas carências meio insolúveis, e isso em nada tem relação com o riso. toda vez que a beijo, imagino que aquele beijo não admita uma bobeira qualquer no tempo, ou que simplesmente descaracterize-se no instante seguinte. nenhuma experiência até aqui foi excesso, e se dançar era difícil, talvez agora você entenda o motivo. o passo não é uma sincronia mecanica, nem imutável. o sexo também não. eu me senti avaliada por seu juizo, é verdade. me senti vista, posta em evidencia, num nome que talvez eu não fosse. a minha cabeça já me bateu muitas vezes por isso, já chamou, justamente porque eu não queria ser uma definição academica, uma formalidade, eu queria superar, ir um pouco além. eu descontrui você - ou ao menos me propus intensamente a isso - para construí-la de outra forma. eu a transformei um pouco em ficção. eu me dispersei, brinquei, ri. e nesta intimidade confusa, perdi a disciplina. a vontade, não perdi - e queria que você soubesse disso. então espero que eu não a tenha deixado ir, sustentada pela assombração que estas idades inventadas nos causam vez e outra. unhas vermelhas à parte, gatos, biquinis, cervejas, vinho, sofá, whiskys, eu me encantei. você é um receio no qual eu acredito. eu estou aqui, nisso, e você, onde está? o acesso a fronteira está constantemente conosco.


myself & I.