ela puxava minhas palpebras como pequenas cortinas, de modo a não me deixar pregar os olhos jamais. ela me gostava viva, pulsante. ela me puxava em seguida com força prestante e indecorosidade de serviço inacabado. aquela urgência de corpo com corpo. dente com dente. e a imagem que me vem à cabeça? ela, a me amar com os dentes. ela fazia um movimento circular com o pulso, como se insistisse em um instante e hesitasse no outro.
mordia minha mão inteira e então sorria, com aqueles olhos pequenos e fundos. olhos de um desejo subalterno e silencioso. seu olhar era o olhar mais adjetivado que conhecia. tudo estava contido nos olhos dela, como um céu, nos dias de tempestade. parte de mim transbordava em certas linhas de tempos em tempos e nada me interessaria, a não ser a eterna preocupação em relação a seu comportamento de dependência.
não mais breve do que previ, deixei-a. sentada, cansada. e deixei que repetisse os mesmos verbetes que lhe disse quando devastei meu gostar declarado por ela. achei que poderia comentar sobre sensações menos propícias do que esta, mas esta é a única sensação de que me lembro. tentava evitar fazer uma comparação literária, entretanto, não tinha outra possibilidade para defini-la. ela também tinha olhos de ressaca, machado. agora sim entendo o que eram e o que fizeram comigo. era mesmo uma ameaça. ela me puxaria, me tragaria, me arrastaria para dentro dela, INEVITAVELMENTE.
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