quarta-feira, 10 de dezembro de 2008

Boemia | 3

Tudo o que lhe dizia respeito era passível a comprovação. Eu sei, a gente vai se curvar diante do que tem – ou ao menos do que deseja possuir. A Marcela era um privilégio – e como todos os bons privilégios, um tormento seguinte. Porque quando ela fumava seus olhos fumantes caiam sobre mim, suas pálpebras pesavam sobre mim, e as cinzas avermelhadas polvilhavam a minha roupa – e o meu corpo por baixo a amparar seu corpo, a anulava. Ela subia em nós. Ela suava em mim com aquele tesão que lateja tanto que chega a ponto de escorrer, a ponto de transbordar pelos poros e pelos fios de cabelo. Unhas pouco compridas e muito bem feitas: os seus detalhes eram notados por poucos e devagar. Se eu a descobrisse toda, ela iria embora. A dúbia questão de ser é que a fazia existir. Ela disse que a certeza a sufocaria e que eu seria submergido logo depois também. Ela disse que tomava tempo fazer planos e por isso nao se entregaria tanto. Ela teve a audácia de profanar um destino, um destino para mim - ela conseguiu descrever também que agora até eu já acredito fazer parte dele.

3 comentários:

  1. Marcela, mulher.
    'Se eu a descobrisse toda, ela iria embora.'
    Um dos encantos femininos.

    Obrigado. :*

    ResponderExcluir
  2. hoaiheoiahe brigaada :D
    gostei daqui tbm, desse texto em especial, mo legal =)
    beijo

    ResponderExcluir