quarta-feira, 5 de janeiro de 2011

à ana | 8

o oitavo texto de ana é esse.

saudade não é ver a cama vazia, mas saber que um dia teu corpo deitou-se nela - e que, nela, ainda está o mito da sua silhueta. saudade não é ver um dia terminar sem um beijo, mas saber quantos outros tantos beijos foram dados em despedidas. saudade não é despedir-se, é desprender-se em questão de corpo e abrir-se para suportar a presença apenas em pensamento. saudade não é ver teus cigarros no carro, mas saber que você fumava dos meus quando não os tinha. saudade não é a grande reconciliação que traz, mas as pequenas implicancias graciosas dos risos de todo dia. a saudade é de uma bobeira impar de quem ama, e não de qualquer eloquencia bem intencionada para amar.

digo, ana, que são suas essas palavras que vieram até aqui. saudade? saudade. não estou mais ocupada do que antes, nem menos facilitada do que depois. pois que sugiro que faça o segunte, faça a cama do lado de fora, sob vigilancia de meia dúzia de estrelas - porque no céu de qualquer lugar que eu estiver, vou ver seu rosto sorrir. não deixe ninguem na cidade dormir com a tua alegria. deite o corpo desse mundo na cama, não só pelo descanso, mas pelo sonho. em dez dias receberá uma carta, de um amigo, escrita por mim. em dois dias, terá mais lembranças do que sensações da minha presença. em uma semana, talvez chore. em quinze dias, provavelmente se lembrará que eu disse a ti, ainda hoje, que esta viagem não é para trazer presentes, mas para trazer a vontade de tornar o futuro de agora em coisa de se viver amanhã. você vê a forma como essas palavras deram um nó? há ecos na minha cabeça, devo assumir. há muito mais coisas em que acredito agora. eu sou uma esquina, uma sombra tua, um sonho de nós. devo avisar-te: meu quarto ficará vazio. mas em compensação minha presença vai e espalha-se no mundo até cair sobre ti, à noite, nas tardes ou em manhãs de vento frio. eu sei, eu vou estar aonde você me sentir. eu vou estar embaixo de tua cama e nas frestas sem poeira do teu armário. nos cordões do teu tênis, nas panelas do teu almoço, na tua bebida, na fumaça do teu cigarro. pense, logo eu existo. estive a pensar em quantas coisas nunca te disse. será que disse que apenas precisaria andar com um balão de ar nas costas e uma foto sua pendurada nos olhos para sambar de novo? talvez você saiba disso em breve. meu amor, eu volto, para você continuar a me trazer a felicidade incansável dos teus olhos. eu te amo, eu te vejo.