estou a iniciar um texto. eu me concentro: e eu sei, eu vou perder um tempo. é como se fosse ter um filho ou fosse decolar, pular de um prédio. passo a ser uma extensão de mim. tropeço, como um bêbado. trago a embriaguez comigo. sou apenas um pacote de receios. sou eu, resguardo.
segunda-feira, 17 de novembro de 2008
cinco de seis
(...) a terceira não falava, ela cuspia as sílabas, os acentos e as tremas que nem se usa mais. ela era pequena e vermelha. ela tropeçava parada nas palavras que dizia. a segunda usava um salto fino, uma agulha nos pés que fazia marteladas no piso frio. ela dava dimensão as palavras e falava de forma lúcida, reta, limpa. ela era azul. a primeira fazia grandes intervalos de palavras entre por e tirar os óculos. usava uma blusa de uma mulher de 30 anos, divorciada, 2 filhos. tinha uma cara de quem mexia com números - e ela era vermelha também. a próxima falava como se parecesse óbvio. usava um azul escuro que me puxava para baixo, para junto dela; um sobretudo preto de uma viúva jovem, loira e com bolsas cinzas debaixo dos olhos: olheiras do tempo que não se viveu ainda. depois disso, um corpo de pose, de ombros largos que se punham como um ponto de interrogação. ela era a mais misteriosa e parecia-me sempre não demonstrar tudo. falava sem envolvimento ou crença. não usava brincos, anéis ou colares. nenhuma maquiagem. era rica - e vermelha. a sexta, a última, não me interessou. não me intrigou em nada (...).
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Acabei de comentar no anterior e tu comentou agora.
ResponderExcluirE eu nem tinha terminado o café.
Parece alusão a cartas de tarot. Sei lá.
Beijos.
Nossa. Tão instigante...
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