estou a iniciar um texto. eu me concentro: e eu sei, eu vou perder um tempo. é como se fosse ter um filho ou fosse decolar, pular de um prédio. passo a ser uma extensão de mim. tropeço, como um bêbado. trago a embriaguez comigo. sou apenas um pacote de receios. sou eu, resguardo.
quarta-feira, 10 de setembro de 2008
não me vejo
eu o vejo. ele de costas para mim, a tentar entender as explicações que lhe ofereço em troca do que se perdeu. eu o vejo. ele de costas para mim, a tentar resolver os cálculos que lhe propus em troca do que se gostou. eu o vejo. ele de costas para mim, a tentar subornar uma amiga que lhe ofereço em troca do que se comportou mal. eu o vejo. ele de costas para mim, a tentar aplaudir a idéia que lhe ofereço em troca do que se rompeu. eu o vejo. ele de costas para mim, a tentar abraçar os braços que lhe recusei em troca do que conquistei. eu o vejo. ele de costas para mim, a tentar estorquir a loucura que lhe oferço em troca do que lhe neguei. eu o vejo. ele de costas para mim, a tentar não lidar com a bebida que lhe ofereço em troca do veneno que lhe doei. eu o vejo. ele de costas para mim, a tentar impedir o não-beijo que lhe ofereço em troca do beijo que lhe dei. eu o vejo. ele de costas para mim, a tentar segurar o segundo que lhe ofereço em troca dos meses que lhe arranquei. eu o vejo. ele de costas para mim, a tentar justificar a frase que lhe ofereço em troca do silêncio que se propagou. eu o vejo. ele de costas para mim. não me vejo; não o invejo.
Assinar:
Postar comentários (Atom)
:(
ResponderExcluirTe AmO