quarta-feira, 27 de agosto de 2008

sua morte, sua vingança

pois que tentou, mas foi em vão. qualquer tentativa, que não a de tirar-lhe os talheres da mão, lhe pareceu em vão. subiu as escadas depressa, com uma urgência efêmera de médico. suava pela vertebras: a futura mulher de sua vida, ali esticada, quase que sem vida. fuçou nos remédios e nada. nenhum curativo digno. apenas aquelas centenas de potes de anti-depressivos que ela tomava pouco antes de ir dormir, seguidos de um copo de leite gelado. como ela pôde esconder tanto assim? como pôde dissimular tanto? como mudar tanto os móveis de lugar, fingindo um incômodo que não existia? poderia, ao invés de prestar-lhe socorro, engolir um copo de seu corpo; de seus fluídos, já retos e sem risos. bateu com força a porta do gabinete: tudo aquilo era uma mentira, uma fantasia. ela se contorcia sobre o tapete, como se reagisse a uma decência que não tinha. esperava ansiosa pelo momento do bote, como se fosse um animal a resguardar-se. puxaria tudo para perto de si: o ambiente haveria de lhe pertencer no instante do ataque. perguntou-lhe:

- o que você está fazendo?
- estou morrendo.

segunda-feira, 25 de agosto de 2008

tudo

o primeiro passo seria estabelecer metas, mas, ah, planos do futuro financeiro são muito chatos. dessa forma, juntei os trocados sobre a mesinha da sala e elevei meu orçamento. nenhuma planilha, assumo. porém, junto aos dois copos de vinho que também estavam ali, socorri um último pensamento e o puxei para perto de mim, fingindo abrigá-lo de toda intenção que poderia vir a distorcê-lo. não tinha mais tempo, nem nada. nenhum consolo em relação a uma intenção decorrente de tristezas anteriores. tudo já havia passado por nós e por quem havíamos sido um dia.

quinta-feira, 21 de agosto de 2008

Mr. Cook

O café custava 50 cents, meu bem. Coisa chic, de primeira. Minha descendência européia barata adora estas cafeterias que se parecem com bares antigos. Entenda, contudo, que antigo não se refere aqui a algo requintado. Refere-se ao tradicional; e o tradicional, a algo completamente não entusiástico - ou não para a maioria pelo menos. Considero maioria qualquer outro comigo. Tentei sair dali, mas não tive coragem sufuciente. Os outros poucos jovens que também frequentavam o Mr. Cook eram ainda mais urbanos do que eu. Sei que parece bobagem, mas eles paravam para comer a esfiha de carne fechada e tomar coca-cola light com gelo e limão. Muito catichupi, ou katchup para os mais integrados com o idioma do mundo, e um pouco mais de quinze anos dentro das mochilas de lona nos ombros. Talvez esteja ficando velha sem perceber. Ou alguns, poucos como eu, já nasceram com oitenta e três anos nas costas. E com esses constumes de quem já viveu tudo. Eu não assisti à Copa de 70, nem as anteriores. Eu só pedi um café e acendi um cigarro: black de menta.

quarta-feira, 20 de agosto de 2008

terça-feira, 19 de agosto de 2008

você é quem deveria ter vergonha

eu tenho vontade de matá-la. tirar-lhe o couro. acabar com a raça. e então embrulhar tudo, como um presente ingrato que se aprensenta sozinho. você me colocou contra a parede, existindo e exigindo de mim a verdade que estava a me desnortear. adivinha? você me espremeu tanto, TANTO, que conseguiu o que queria. e agora? ah, agora você quer renunciar. você sequer sustenta sua própria expectativa contra-decepção. você tende a estar sempre certa, errada? não. você tende a julgar cedo. a contemplar pouco. a falar demais e sem parar. você tende a recitar intermináveis monólogos de boa conduta e de respeito enquanto separa as esfihas no armário: filho de pedreiro não come esfiha de queijo coalho. contraditório e que merda, não é mesmo?

você é quem deveria ter vergonha.

segunda-feira, 18 de agosto de 2008

sexta-feira, 15 de agosto de 2008

quarta ela me deu um buquê

quarta ela me deu um buquê.
-tadinho do buquê, todo esmagando dentro da minha mala.

notas | 4

queria que ele tivesse morrido.
viúva é mulher bem vista.

meu primeiro dia

então pára breve e curto. puxa as mangas do agasalho imundo e tira a franja fina do rosto - há ainda quem a prefira sem. retoma o pensamento anterior, como se fizesse um gancho. ou uma pequena alça com o que passou faz pouco tempo. não tem, não mandou qualquer coisa. pensou em checar outra vez, mas desistiu. e não porque a considerava fora dos padrões, mas porque justamente seus padrões mais básicos não eram de fácil acesso ou entendimento. é uma idéia muito antiga, na verdade, os saldos do comportamento. pensou em alguns questionamentos outra vez. por vez, não sabe porque não lhe deram a oportunidade de saber: ah, vítimas da maldita oportunidade. não teve a chance de descobrir, pois que estava a se esconder o tempo inteiro. o sorteio foi feito antes. as amantes se formaram antes que pudesse, sequer, tomar forma. não pode tudo em uma mesma vida - precisaria de pelo menos uma meia dúzia. ou dez.

inicialmente, o que deve ser feito? pensa estar a andar em cículos. pensa estar a perseguir os próprios rastros que deixa. os próprios restos. as próprias sobras que deixa pelo caminho. na

outra, talvez, passará. com sorte também ultrapassará seu máximo, sua idéia de felicidade plena. ela queria dirigir cidades especiais.

e você?
ah, você quer os restos? você quer aquilo que ninguém quer pelo simples fato de se auto intitular resto? BOBAGEM. bobagem completa. bobagem completa de um status que não posso comportar. assim, não me comporto. nenhum dia mais será preciso. este primeiro me basta por hoje. então, perdoem o atraso de minhas idéias hoje. mas somente hoje.

quarta-feira, 13 de agosto de 2008

desconhecida mulher

tomemos nota:

pois que me surpreende que isso ainda me ocorra, vez e outra. por que todas as vezes que insisti na diferença, obtive sucesso? é impossivel, percebo agora, que idéias iguais se sobreponham. diga seu método e o descreva com detalhes, - solicito. a obsessão é um jogo para jovens. assim, desconhecida mulher, eu já nasci dessa forma, com cento e dois anos nas costas. com oito dias por semana. treze horas por dia. poucos dias por mês e nenhum ano novo a me contemplar. eu achei que poderia pagar a conta, abraçar a causa, arcar com as conseqüências. mas, não. essa vida é só uma fantasia. um prévio ensaio de qualquer coisa. uma atrocidade, um mistério do "arco da velha". eu, sinceramente, acho que diz a verdade - todavia, não consigo confiar com plenitude ou sossego. ela prometeu sua fidelidade - não a mim, entenda, mas às promessas que fizemos enquanto sentadas sobre o tapete da sala. deveria esperar sua presença? estava a deduzir que ela estaria desaparecida, deconhecida.

domingo, 10 de agosto de 2008

pela sensação de poder algo

é como se você tivesse que repassar o que é verdadeiro e o que não é. às vezes não dá mesmo para prever qualquer futuro - ainda que fizesse planos, seria impossível evitar furos, ou mesmo rompimentos breves. e NÃO, não são as situações: são as pessoas. pessoas que magoam pessoas - e, claro, essa insuportável mania de querer ser feliz o tempo todo.


eu queria ser um velho gordo, pronto para morrer. eu queria ser uma avó que não descasou nunca, ou então uma velha que casou sete vezes e ainda tem pique para ir ao supermercado para comprar vidros de pêssegos em calda. é, eu sempre odiei doces de compota. para falar a verdade, nem de chocolate eu gosto muito. eu gosto é de cerveja e cigarro. eu gosto da companhia dela, durante a semana. gosto da sua ausência aos domingos. e da sua incessante marcação aos sábados. eu gosto do cheiro do seu cabelo. do formato das suas mãos. da construção das suas palavras. não tem como, eu sou passional demais e o fato de estar com alguém exclui automaticamente qualquer outra pessoa. eu achei que minha paciência havia mudado, mas não. eu ainda vou me incomodar muito.

constato, assim, que a última hora é a que demora mais para passar, pois que carrega com ela toda aquela expectativa do final. e as pessoas gostam de se sentir próximas uma das outras - sabe, uma espécie de linha funcional que conduz as relações.

eu sempre sei que vou sentir muito quando falar com ela. eu sei que vou vazar litros de mim. é, deve ser isso. eu queria, por vez e outra, recomeçar, passo a passo. eu deito na minha cama e dali a cinco minutos ela já vem me perturbar. adivinha tudo como sempre tenta adivinhar. e eu tento ser uma mulher fina, mas não dá: sou tão criança quanto fui um dia. é, acho que deveria poder sair por aí falando verdade, todavia, devo conter-me apesar, ainda, da vontade que me toma e que insite para que eu o faça. não se trata apenas de não fazer. isso não ter nada a ver com não fazer. é, você simplesmente sabe quando estão falando de você. porque você para como um animal e resguarda-se. um animal forte, mas de cabeça grande e burra.

às vezes não consigo me sentir funcional - é, não vai dar certo. você acha que pode sentir quando estão se aproximando, mas a verdade é que não pode. então qualquer tentativa, que não a de tirá-la do pensamento, passa a lhe parecer estúpida e em vão. poderia combinar passeios, mas não. à meia noite devo estar em casa. eu durmo sempre acordada. outra vez, o animal. e se eu chegar e ela chegar primeiro? ou e se ela chegar e, não me vendo, for embora? ah, que rude da minha parte idealizar assim, tão pequeno e contido. precisava de uma imagem para se reerguer. e então outra para que possa se estabelecer definitivamente. não tem mais modos, nem sonhos próprios. apenas um cartaz de seu filme favorito, como símbolo de suas memórias. ou um símbolo final de comoção de idéias, de abstração e de sussurros amorosos - não turbilhantes, apenas amorosos. poderia dizer então que nenhum rancor que sentisse seria forte o suficiente: às vezes a gente se bate mais que o necessário. de repente, eu até consiga finalizar um projeto, mas o tempo insiste em me desejar inteira e em me exigir atenção completa. não há pudor nos divinos momentos. essa gente não precisa de qualquer ensino.

e não, você não entendeu.

eu não lhe desejaria tudo, mas apenas o pouco que posso desejar: saúde. espero que esse soluço passe. que o tropeço passe. que a recruta passe, mas que não passe a agonia. o desespero. a trepidação do corpo sobre a cadeira em frente à mesa. eis algo que lhe impulsiona para frente. e joga. e revoga. mas não abandona jamais. eis que lhe corta as pernas: mas a cela jamais. eis que lhe dá suficiência. autonimia. dicotomia. PODER.

e não pelo poder, mas pela sensação de poder algo.

quinta-feira, 7 de agosto de 2008

o arrepio

arrepiou-se.

tinha um bicho a vasculhar seu corpo. e este entrava pelas mãos e pelos rins. um corpo dentro do corpo ou uma nova contratação. poderia ter sido qualquer outro, mas não. rodeava as suas entranhas e dava um soco no coração, vez e outra.

falava enquanto soltava a fumaça:
eu te amo.
EU TE AMO.
(como se tentasse ainda tornar crível a mensagem)


subiu. subiu.













o ato de fumar lhe remtia algo poético.
decadente.







genial.

quarta-feira, 6 de agosto de 2008

notas | 3

sua principal personagem não passava de uma imitação de sua vida.
e que merda de vida para se imitar, não?

eu, ciúme

não tinha ciúmes, porque já era FEITA de ciúmes. morreria caso a visse com outra nos braços, nas pernas ou no rosto. as brincadeiras eram apenas uma forma de se distrair, de se defender de terceiras; uma vez que qualquer fraqueza ainda lhe causa inflexibilidade. trava seu corpo e faz seus ossos baterem, uns contra os outros. poderia se contorcer inteira, estralar inteira que, ainda assim, não teria sequer uma única solução que pudesse justificar o quanto realmente a gostava. mas hoje, em particular, não sente aquela empolgação em suas palavras. não sabe, não sente. talvez seu máximo estivesse exposto, posto como um tijolo velho perante seus pés, exigindo qualquer prévia confusão. talvez já tivessem esticado tudo o que poderiam ser porque já haviam, mesmo, sido. algumas histórias não pussuem pontos finais, apenas pausas para café. e então continuação da leitura. e a releitura. releitura. e o mesmo rodeio de idéias e de sentimentos fracassados. sabe-se lá o por quê, mas também nunca chegou a esquecê-la como um todo. o desejo que tem seus objetos ausentes não termina nunca mesmo. novamente ninguém perdoa os delirios de um grande amor, ou de uma paixão desvairada. talvez estivesse a se afobar demais. ou talvez ainda não tenha tido tempo para o tempo que precisa: o tempo que ela havia lhe prometido recua para longe. aqueles meses, noites. aquela tarde e aqueles dois anos. aquela vida inteira pela frente. é, ela havia lhe prometido tudo aquilo.

não entende e também não quer depender dela. ela jamais dependeria. tem medo. resguarda-se. então guarda no bolso os planos que fizeram, como se fossem doces de festa que se leva para comer mais tarde. talvez seja cedo para as coisas que não se faz com freqüência. ou talvez seja apenas uma falta de inspiração momentânea. qualquer história não justificável.

bate no peito, exigindo respeito. postura de si. como poderia se deixar levar assim tão fácil? achou que as melhores coisas da vida não fossem simples de se descrever, contudo, estava enganada. era horrível. e era tão tremendamente horrível que lhe subia um gosto de azedo pela garganta toda hora que tentava dar inicio à prosa. não havia, de fato, qualquer prova contra seu corpo. pensou que poderia tratar da tragédia como um incidente, mas prefere não comentar. só volta a dar voltas nas mesmas palavras, como que animais já mortos e secos. seus lápis são como pequenos gravetos de grafite. suas folhas são como panos de chão. e seu chão, um chão sem teto. sem nada que proteja ou que acolha. apenas um tapete velho de memórias que são retalhos. apenas um punhado de tampas de cervejas jogado no canto, como poeira mal varrida.



queria sumir desse mundo agora, ah, a leve com você, ciúme. e então a tire daqui, a arranque dessa casa. dessa cama. desse beco sem saída. desse cárcere amoroso. dessas vidas que estancam seu corpo. não quer ser a decepção de ninguém, a não ser a dela mesma. que tosco.

terça-feira, 5 de agosto de 2008

tranqueira

acho que deveria pensar em recuar seu nome, tirá-lo de cena mesmo. os prazos estão ficando apertados de novo e as interferências são construídas para se desmontar. aliás, o projeto anterior já chegou a ser considerado o melhor de todos, mas agora, contudo, apenas está a me tirar o sono. é, eu tenho a impressão que está mais leve. um desfalque nessa tranqueira.

segunda-feira, 4 de agosto de 2008

segunda, dia de reencontros

assim, coloque de lado os velhos livros que está a tentar ler nos últimos dias, e recomece tudo. TUDO. entregue qualquer documento. qualquer pouco que você consiga. hoje, menos de uma flor já basta: você nem me passa pela cabeça. não entendo essa mania de maria sempre casar com joão. é hoje o dia pelo qual tenho esperado tanto. segunda, dia de reencontros. estou a preparar a barriga para bebidas e, com sorte, nenhuma briga farta. eu, ela, e a vida inteira pela frente. os planos, enfim, de volta. estou na rua, mas assim que chegar ao local, eu compro. eu até fui ver preços e modelos; apesar de antes desejar um acordo prévio: não quero decidir sozinha. comece a trabalhar para ver os retornos. segunda, dia de reencontros. tanto que a dor de garganta tampa qualquer canto ou ruído. em nenhum momento cite professores. culpa nossa: ah, delícia de culpa nossa.

sexta-feira, 1 de agosto de 2008

enfim, um fim.

e é óbvio que queria mesmo ouvir tudo aquilo; afinal, por quem mais esperaria dezoito meses seguidos? por quem mais suportaria olhar para frente e ver a pessoa que gosta com outra pessoa? simples, por ninguém mais. por ninguém mais no mundo faria o que fez por ela - ficar em silêncio. ficar quieta como se visse nada e fosse, ainda, metade da pessoa que jurou que seria um dia. suas palavras jamais foram boas o suficiente, essa era a verdade. jamais! jamais haviam sido boas. e ela estava convencida disso; estava finalmente convencida que que a gostava, agora, sem ironias. sem rodeios. sem mentiras ou falsas previsões. não conseguia mais suportar sozinha, pois tudo pesava em suas costas. suas decisões pesavam. seus erros pesavam. seus dilemas pesavam. então, pela primeira vez em muito tempo, soube que ela seria seu próprio sol, mais até do que sua própria cura; e que com ela não seria preciso fingir ser outra pessoa, pois ela não tentaria não mentir, ela simplesmente não mentiria. não mais entalaria em sua garganta ou lhe causaria falta de ar. ou irritação. ou sono. ou ressonância. não mais dormiria; apenas passaria o resto de seus dias olhando para a mesma fotografia, na qual ela ainda sorria, franzindo o canto dos olhos. diabos, tem sido cega desde sempre! desculpe-a garota, pois foi você quem esteve o tempo aqui por perto. dê-lhe uma última chance de contar a mesma história de novo, de descrever as mesmas cenas, de matar as mesmas personagens. todas as coisas que deveria ter dito ainda estão aqui. estão intactas. estão presas a seu próprio medo. a sua cautela. a seu ego. a seu orgulho distorcido e - por sorte - ainda não jogado no lixo. e está preso a sua falta de jeito com tudo que está a sua volta, pois passara tanto tempo escrevendo que praticamente não tivera experiências. apenas percebe-se agora que está feliz - insuportavelmente feliz por não ter chegado ao fim da história que imaginou e, assim, não ser a contradição que sempre achou que seria. então aguente. aguente firme porque ela virá buscá-la, e irá colocá-la sentada no carro novo que ganhou - no carro em que vc entrará com convicção; apenas com certeza e mais nada. apenas isso. apenas a idéia fixa de que quer aquilo. quer estar ali. quer o vento gelado no rosto - e então quer a expressão congelada no rosto como numa fotografia; como naquelas centenas de fotografias que nunca chegaram a tirar, sabe-se lá porquê.
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09/dez/07