quarta-feira, 30 de julho de 2008

a outra

então eu me contorci na cama por três horas que demoraram dois dias para passar. novamente, alguns momentos têm mesmo se arrastado. e eu me sinto sem saco para nada, nem paciência, nem qualquer urgência em relação a decisão prolongada dela. é, ela é mesmo indecisa demais. e não que o nosso segmento de afeto não tenha valido nada até aqui, porque de fato não creio nisso. apenas considero, no momento, que sua nobre confissão não tem qualquer valor. a sinceridade é uma merda: a ilusão protege dos riscos ácidos da paixão, assim, prefiro-a incondicionalmente. não tenho posição para deitar e dormir. não me ajeito. a outra parece pinicar meu corpo, cutucar meus ombros, puxar meus travesseiros durante um ato rápido e travesso. eu sinto meu avesso se sobrepor a mim. e não que seja incapaz de admitir ciúme, mas não colocá-lo de forma óbvia me resguarda. a unica forma de não ser louca é não admitindo, assim, a própria loucura a partir da qual me componho. e reponho. e sonho alto. ah, sonhos. eu sonhava, mas e daí? os sonhos não embelezam mesmo, não é?

passo uma das pernas por debaixo da outra. e repasso. e novamente o impasse de sempre, mas essa noite, em particular, seu corpo não me faz companhia. não sinto sua presença, nem sua respiração. nem mesmo o chão do quarto, antes com suas roupas e óculos jogados com confetes de carnaval. nem festa, nem nada. apenas o silêncio de uma noite que não passa. de uma noite que não tem por onde passar, uma vez que seus caminhos já estão de cheios do corpo da outra - não, isso não é um elogio. noutra posição, quem sabe, qualquer intenção de dormir. de pegar o sono e abraçá-lo forte, como ela costumava me abraçar, de forma a não de deixar sair jamais. teimo dizer-lhe: não diga que me ama - você nem sabe o que isso significa. o amor não é pendende, nem dubiativo. o amor é uma impertinência excessiva. não me ame caso pretenda deixar-me. amar não é saudavél.

já passava da meia noite quando me dei conta do ocorrido: hoje estamos a celebrar sete dias. uma semana: sete vezes seguidas de ligações e pendências. às vezes não preciso sequer propor brigas: o destino propoe brigas por nós. é, meu anjo, não tenho tempo para julgar seus extremos como gostaria. eu vivo a fazer emendas com os minutos que me sobram. dedicaria minha vida à você, caso dedicasse até suas dúvidas a mim também. outra vez, metade de você não me serve. e que merda, achei que não passaríamos de novo por isso. mesmo depois de sentar e lhe explicar os densos riscos da poesia, ainda insisto em tratá-la como uma de minhas personagens. digo-lhe frases poéticas em meio a nada ou a qualquer situação.

eu me confundo comigo.
não sei, não consigo.

ainda que tentasse me colocar plenamente sou pequena para essse espaço que me pede. então eu mesma penso em lhe conceder esse espaço, essa distância de pensamento entre nós. ainda que longe, ela parece estar a me rodear o tempo todo. sabe exatamente o que faço, adivinha minhas frases e a forma como mexo no café, enquanto concordo com suas dúvidas. ela sabe a hora que eu quero acordar, que saio para trabalhar. sabe a hora que não trabalho durante o expediente, ainda que sequer tenha pausa para almoço ou lanche. sinto que me conhece sem saber quem sou realmente. assim como em relação a ela, qualquer conceito sobre mim é precipitado. é extremo. é demais. é pesado demais. e tudo se torna, automaticamente, perseguição de instante seguinte. o que se efetiva em um momento, reparte-se no outro. assim, não me ocorre outro desfecho senão este: tempo, ocasião própria. passemos adiante tal cordialidade.

Um comentário: