quarta-feira, 5 de fevereiro de 2014

métrica do inquilino

é sempre difícil falar de sua vida.

tuas pontas dos dedos
e teus calcanhares trêmulos
ainda buscam na saída da porta
os vocábulos, os últimos vínculos.

as mesas sozinhas do bistrô
assemelham-se a um cubículo claustrofóbico
aonde um dia tu fizeste lar
e hoje, a doar lembranças,
esvazia-se ainda pelos passos dinâmicos
que te coalha os músculos nessas andanças

não há certeza mais à deriva que esta
não há tentativas de te inundar boca
de depositar no outro
o corpo e o copo
largados ali
já sem rijos olhos sob os quais existir

foi abandono na única manhã possível
foi tanto misto quanto crível
tanto farto quanto visto
por nós
naqueles brinquedos de doar cafuné
de axé
e de segredo

mas os poemas aderiram desagradáveis formas
pois já não eram lidos pelos amantes
mas pelos homens comuns
pouco extravagantes
que te tornaste
e que me tomaste, logo em seguida

e assim,
dia após dia
o terno grado do sentimento
assolou-se sobre a travia rotina
de quem virava
cada vez mais e amiúde
de si mesmo
um inquilino

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