estou a iniciar um texto. eu me concentro: e eu sei, eu vou perder um tempo. é como se fosse ter um filho ou fosse decolar, pular de um prédio. passo a ser uma extensão de mim. tropeço, como um bêbado. trago a embriaguez comigo. sou apenas um pacote de receios. sou eu, resguardo.
sexta-feira, 17 de outubro de 2008
eu me lembro daquele mês de julho
eu me lembro daquele mês de julho. um julho sem fim. você deveria ter jogado as coisas fora (as camisas, as meias gastas), assim como eu fiz. deveria ter traçado no mapa os caminhos e todas as rotas possíveis - você deveria ter ido embora enquanto podia. você deveria ter dado mais chance, mais tempo ao que durou apenas um segundo (o coro, o beijo). do armário, ainda aquela poeira fina que você trouxe nas solas do tênis - é, eu me lembro como você adorava fazer caminhadas em manhãs frias, manhãs como esta, aliás. eu queria confessar mais vezes a sua ausência, mas por várias outras me convenci que você sempre esteve comigo - a falta é apenas uma impressão errada; e a saudade, um desvio natural de tempo. eu sei, eu mesma a inventei. eu lhe coloquei cílios. eu lhe coloquei pequenas imperfeições na pele e pequenos pedaços de mim no pensamento (meus segredos, meus medos mais bobos). eu lhe costurei sombra nos pés. unhas nos pés. pés. será que você não percebe? eu me abraço com seus braços em mim. meus braços são seus, mais até que meus abraços ou minhas roupas. eu REALMENTE me lembro daquele mês de julho, você não?
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