estou a iniciar um texto. eu me concentro: e eu sei, eu vou perder um tempo. é como se fosse ter um filho ou fosse decolar, pular de um prédio. passo a ser uma extensão de mim. tropeço, como um bêbado. trago a embriaguez comigo. sou apenas um pacote de receios. sou eu, resguardo.
segunda-feira, 17 de novembro de 2008
um passeio que era um grito.
era como fazer um passeio - eu tinha a sensação de gritos no silêncio. ele gritava comigo na minha cabeça como gritou tantas outras na minha presença. e ela gritava também, a acrescentar. um coro de gritos. um tapa no ar. um grito que tentava ser didático e que dava ódio. não sei ainda se gritava ou se pedia socorro. se chamava a atenção, ou se tentava tirá-la de mim. acho que não perdia nem ganhava, aquele grito só sabotava a gente. e virava, dividia a gente. tornava a gente bem menos gente. um grito que era um uivar. um grito que saía dos dentes, que fazia ranger os dentes. um grito que roía o tempo, que devorava a gente. um homem que era lobo, e uma mulher-hiena. um transtorno.
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"... segredos de liquidificador."
ResponderExcluirGritos não se contem, e são incontaveis... mesmo que seja abafado, mesmo que fique guardado. É ainda o pedido de um desesperado, pedido de ódio, gritando odeie-me, me sufoque... me ajude, toque-me...
ResponderExcluirNão importa, um grito é sempre uma arma, pra proteger ou mal-tratar, gritemos a todos, que amamos e que odiamos, mas gritemos nossa alma lavada.
Não curto gritos, prefiro beijos e declarações, mas acho que o primeiro comentário define: segredos de liquidificador. Viva Cazuza, que melhor gritou com um microfone (pra mim, ao menos, à minha alma).
ResponderExcluirAceita um café, bem quente. E volte sempre. ;)