estou a iniciar um texto. eu me concentro: e eu sei, eu vou perder um tempo. é como se fosse ter um filho ou fosse decolar, pular de um prédio. passo a ser uma extensão de mim. tropeço, como um bêbado. trago a embriaguez comigo. sou apenas um pacote de receios. sou eu, resguardo.
terça-feira, 18 de novembro de 2008
multidões | 3
sentia uma fastio, uma falta de apetite, uma redundância. e outra vez aquela considerável porção de gente lhe cercava o corpo como uma cárcere de corpos nus e saudáveis. e tinha uma distância pequena, quase ínfima, entre o que a distinguia da algazarra, do ruído das vozes - finas dos homens e imponentes das mulheres. ah, as mulheres. tão mulheres que não se traçaria nada em suas faces a não ser rugas no rosto - assim, bem simples - ou do grande rosto que formavam todas elas. as linhas do tempo faziam caminhos na grande testa, convites na grande festa. nos sábados à tarde, mosteiros; retiros, silgilos. os sapatos eram detalhes - sabia que lhe tomariam tudo, de baixo para cima. a multidão, diferente do que poderia prever, lhe faria um favor. a plebe, a maioria das pessoas, não tinha pele no olho. não tinha pálpebra. imagina: a multidão era uma multidão que não dormia nunca. não recurvava nunca. não se embriagava. não fazia sexo. a multidão era gente - gente que não era gente.
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Isso me lembra "Metropolis", do Lang.
ResponderExcluirLigue não, coisa de quem estuda cinema... sei lá.
mas lembra. *rs