estou a iniciar um texto. eu me concentro: e eu sei, eu vou perder um tempo. é como se fosse ter um filho ou fosse decolar, pular de um prédio. passo a ser uma extensão de mim. tropeço, como um bêbado. trago a embriaguez comigo. sou apenas um pacote de receios. sou eu, resguardo.
domingo, 28 de dezembro de 2008
terminou dois dias antes de começar
o ano começou dois dias antes de terminar. então virou a folha do calendário da mesma forma como virava as páginas gastas daquele velho bloco de poemas. sentou-se na mesma cadeira em que havia se sentado no ano passado e olhou o céu cinza pela janela, com a mesma falta de convicção de antes. chutou para o lado o balde de lixo cheio de frases retas e repetidas; finalmente parecia ter coragem o suficiente para se levantar daquela poltrona e ir buscar um copo de água - há semanas só bebia vinho e respirava aquele mesmo ar viciado de antes. aquele ar vencido. suado. sofrido. realmente gasto por sua própria respiração ofegante que tem se propagado pela sala de estar - conclusão, não estava. olhou ao redor, com os mesmos olhos cansados de antes. sentiu um aperto no peito e aquelas pálpebras que pesavam: eu nunca mais vou largá-lo, pensava. nunca mais! e eu nunca mais vou me importar com nada que tem a dizer, pois que suas palavras estão amassadas naquelas folhas amareladas, no lixo, no nada. estalou os dedos: eu nunca mais vou voltar para mim. sentiu um medo breve, como se qualquer coisa que estivesse para acontecer soprasse no ouvido um falsa esperança. deixou que alguns minutos do novo ano passasem sem muito compromisso; sentiu um alívio, e sentiu então um tranco. um giro louco dentre as idéias como se alguém segurasse uma arma no fundo da alma e atirasse sem pena por todo o corpo. estava ainda sentada; estasiada pela sensação. sentia frio e sentia, acima de tudo, a falta. a falta que fazia. estava presa. presa! estava presa para sempre. todas suas novas idéias planavam sobre sua cabeça sem saber o porquê. todos os seus sonhos estavam nos olhos do outro. nos olhos que refletiam uma cor idefinida. um cor doce. um cor doce de mel; é, eu nunca mais vou voltar. e nunca mais vai deixar de estar com ele.
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