sexta-feira, 27 de fevereiro de 2009

os dois fechados

mofo é mofo.
rosto é transtorno.

o tiro

tudo o que era nosso era de todos agora. eu tinha trocado a aparência pela essência em mim, e nele, o gosto do pouco pelo gosto dilacerado. eu tinha feito em pedaços, mas ele - o segundo torturado pela dor - já tinha aumentado a história. ele inventou cinco dias dos únicos três que tivemos.
- NÃO DEIXA! NÃO DEIXA!
- EU NÃO VOU DEIXAR VOCÊ AQUI.
- NÃO DEIXA, NÃO DEIXA.
ele insistiu na presença, mas naquele ponto eu já não sabia entender mais o que realmente acontecia. eu achava que ele já tinha ido porque eu não via mais o vulto. ele gritava:
- ESSE TIPO DE GENTE PRECISA APRENDER!
- não deixa. não deixa!
eu fazia um balanço com o corpo, um ritual de contra-partida. eu tampava os olhos com uma mão, e os ouvidos com a outra. pernas de índio. ele não me deixaria viver - ainda bem.

top of the world

eu queria que a gente tivesse parado mais há um ano.
e tivesse insistido mais.
e tivesse parado mais há dois meses também.


porque eu estava no topo do mundo.
e você tinha me alçado lá também.




o furo

eu entendo.
a decência vai tratá-lo feito um indigente.

então eu teria ponderado, pensado por duas vezes antes disso. mas acontece que o tempo de espera entre o começo e o objetivo acabava ficando tão grande, tão desproporcional, que eu encurtei o caminho. eu fiz um furo na experiência. eu sei, você teria feito o mesmo. você também teria furado os olhos dessa chance.
eu poderia ter tornado o copo na boca assim como tornei o corpo a casa. eu passaria horas me trazendo para dentro. mas acontece que o desgaste dos seus flagelos fariam de você uma coisa, e não uma pessoa que incomoda. o meu medo era tratar com raiva do furo, - e depois precisar dele. eu sei, você não teria feito o mesmo. você não teria furado o dedo, puxado a corda, largado um peso.

e eu entendo.
porque a decência já está a tratá-lo como um indigente.

quinta-feira, 26 de fevereiro de 2009

domingo, 22 de fevereiro de 2009

às pressas

eu passei. mas ele tinha passado apanhado também. tinha passado de carro, de bike, a pé. tinha passado o ferro, a bandeja, a redação a limpo. tinha passado por essas, por poucas e por outras boas. tinha passado por melhores. tinha passado mal, vomitado, passado o enjôo depois. tinha passado, presente, futuro nenhum. tinha passado o luto, a festa, a chance. tinha passado na televisão. tinha dado no rádio. tinha saído no jornal: tinha passado o contexto.

sábado, 21 de fevereiro de 2009

sexta-feira, 20 de fevereiro de 2009

quinta-feira, 19 de fevereiro de 2009

sobre a ressonância

de repente você é pego de surpresa porque descobre que o túnel tem um fim, um limite. e o que era para ser uma resposta ao grito era, na verdade, eco.

será que a gente espera uma revolução para marchar?
ou murcha,
e marcha até lá?

quarta-feira, 18 de fevereiro de 2009

domingo, 15 de fevereiro de 2009

em cima do tempo

o que era para ser um tempo, acabou tomando todo ele.
eu disse:
- você que incentiva essas coisas!
porque eu tinha que estalar os ossos para esticar os músculos e trazer comigo tudo aquilo que o tempo ainda não me tinha dado. não era eu quem incentivava aquelas coisas.
eu disse:
- você que cativa essas coisas!
porque as preversões tinham adquirido um tempo maior nas nossas vidas; e o que era longe perpetuava agora. não tinha sido eu a pessoa que cativara essas coisas.
eu disse:
- você que atiça essas coisas!
porque provoca em mim a insistência daquilo que o tempo já tinha transformado em um basta. eu tinha jogado tudo fora.

sábado, 14 de fevereiro de 2009

o buraco de terra

DEPOIS DE HOJE VAI DESABAR TUDO.
DEPOIS DE HOJE NÃO VAI HAVER NADA.
DEPOIS DE HOJE VAI DESABAR TUDO.
PORQUE VOCÊ VAI CAIR DEPOIS DE HOJE.
E DEPOIS DE HOJE NÃO VAI HAVER NADA.
PORQUE HOJE É O ULTIMO DIA.
- OU SERÁ QUE É O PRIMEIRO?
NÃO HÁ IDÉIA QUE DIGA QUAL DIA É HOJE;
nem o que passou antes disso.

O BURACO ESTÁ ACABADO.
O FUNDO É O FIM OU
OUTRO LADO?
CABE UMA MÃO
ABERTA E
OUTRA
DE TERRA.
CABE
UMA MERA COINCIDÊNCIA AQUI.

sexta-feira, 13 de fevereiro de 2009

quarta-feira, 11 de fevereiro de 2009

muitas de trânsito

a distância estava lá, como um poste em meio ao caminho; o desvio não vai existir. vai ter que beijá-lo ali mesmo no meio do trânsito. hoje em dia as coisas estão difíceis.

segunda-feira, 9 de fevereiro de 2009

um tonto só

eu tinha que ter visita o tempo inteiro. sala, cozinha, chá, louça pouca na pia. às vezes a saudade é das coisas que se tornaram substituíveis. a gente passa o tempo falando o contrário, eu sei. mas na verdade é uma alusão a falta - ou ao menos a competência faltante. então, a este ponto, a necessidade daquilo que pesa. o peso é um estimulo, um carinho, uma afeição bruta. descomunal. a gente vai torcer para isso, e para o resto também. eu não aredito no que é forte ou implacável. e deveria?

ah, o tempo

A SUA ESTAGNAÇÃO É UMA AVERSÃO A VOLÚPIA?
ELE, O HOMEM DE MIM.

eu sei. as coisas antigas touxeram coisas melhores.

sábado, 7 de fevereiro de 2009

quinta-feira, 5 de fevereiro de 2009

terça-feira, 3 de fevereiro de 2009

o centro

eu sei. a falta se tornaria um escândalo com o tempo.
mesmo uma promessa antiga que tentasse ainda sustentar duas pessoas grandes no alto do ar, seria inútil. seria inútil ligar, gritar, dilacerar a boca e o rosto todo. seria inútil tratar dele como um tratante, um infame, um enfermo - ele já sabia de tudo isso. porque eu tentava encontrar um método, um processo racional que tornasse o sofrimento menos caótico. ele disse que queria um sofrimento ordenado e respeitoso. eu queria convencê-lo de que a doença era um protesto por ele e que eu estava protestando por ele também. eu tinha que formalizar um acordo quanto a estabilidade física dele. faltaria tempo da gente em relação a uma espécie de dedicação plena que ele pregava. ele tentava isso, mas não conseguia mais. então eu tentava me manter no centro. no meio dele e disso tudo. eu precisava estar parada porque ele tendia para os lado o tempo todo. ele tombava, entornava, deitava para fora o tempo todo. ele ainda desejava uma reputação conhecida universalmente, mas a sua condição era um jogo agora, um desafio.
eu sei. a falta se tornaria um escândalo com o tempo.

notas | 18

a competência é uma melancolia, uma solidão.

indigna-se | 2

você apanha a pretexto de bater depois?

a raiva é uma farsa.

segunda-feira, 2 de fevereiro de 2009

ninguém na liberdade

às vezes, pensar diferente.
um pensamento menos regado com pensamento de gente.

indigna-se

outro não-uso da primeira pessoa:

COMO É QUE AINDA MORRE GENTE QUE TEM SONHO?

sinos | 3

ela me disse: você veio aqui para quê? como quem diz, você faz o que aqui, além de tumulto? eu tentei, insisti. era isso que eu tinha ido fazer lá. eu tinha ido para dar uma festa. mas me parece que a minha tentativa de festejar já era uma reação automática indutiva ao erro. a festa era ela.