quinta-feira, 3 de novembro de 2011

à ana | 16

hoje


que voz é esta sua? não entendo. porque talvez eu não esteja a me reconhecer nesses ultimos dias também. aliás, a pretexto de seu corpo é que escrevo isto. sabe, ana, quando me sento eu me sinto retroceder um pouco. queria meu corpo postado ao seu lado, como fizemos antes, mas parece que tem um bicho que me come pelas beiradas, e me tira o tato de você. é desesperador ver eu me perder de você assim. peço desculpas pelo meu abandono que talvez me tenha feito deixar um lugar, uma função, o seu amor. acho que causei um esquecimento de mim mesma, achando que nossa deliciosa paixão, alegria e proximidade jamais cairiam sob o rigoroso sistema da manutenção. eu achei que a segurança que eu tinha em você me daria forças pra tudo. acontece que de repente eu deixei de ser questionada por você, para ser meio desfigurada pelo meu egoísmo. há problemas, claro. mas eles não são, nem nunca foram você. pois que foi na sua companhia que fiz planos, que montei a vida, que sonhei de novo - que aprendi que as coisas que a gente acredita são verdades realmente bonitas. não quis me afastar, negar minha presença. eu só queria a urgência de sua companhia pela minha de novo, como tantas vezes eu quis também. quero poder curar suas carências, mesmo sabendo que nunca serei completamente capaz. quero, e quero hoje. me desculpe, meu silêncio tão pesado às vezes, eu sei - ele também é para mim. porque tenho estado meio calada aqui, em telefones, em tanta comunicação. abraça meu corpo, ana. porque eu me sinto agarrar seu corpo de novo. desculpe, agora, se minhas palavras foram vazias em algum momento... acontece que elas estiveram muito carentes também. tenho um sentimento angustiante produzido por uma saudade de nós, sobre a qual eu não tenho tido domínio. errei pouco, muito, tantas vezes, sutilmente, fui intolerante, aspera, receosa. porque te amo com um amor deveras agressivo, sobre o qual ainda luto para sair do constante enfrentamento em relação a você. você entende? por vezes ainda confundo, porque te amo tanto que volto a misturar o amor e os tantos inimigos que ja tive misturados a ele. quero ver a coisa pura que fomos, quando adquirimos a noção da verdade pela simples intuição. você sente? então estamos do mesmo lado.