estou a iniciar um texto. eu me concentro: e eu sei, eu vou perder um tempo. é como se fosse ter um filho ou fosse decolar, pular de um prédio. passo a ser uma extensão de mim. tropeço, como um bêbado. trago a embriaguez comigo. sou apenas um pacote de receios. sou eu, resguardo.
sábado, 5 de julho de 2008
achei que estivesse morta
alguém bancou a estúpida. e agora está tentando bancar a espertinha. não adianta, esqueça: seus olhos não valem nada. jamais os irá trocar por comida ou alguma bebida amarga. ela já não tem nada a oferecer. nem o decote, nem a linguagem vulgar. nem o topete. o corpete. nem sexo, nem cerveja. seu corpo não vale nada. até um alfinete lhe subestima: perdôe sua falta de modos. os pais não tem culpa que acabou por tornar-se tão mal educada. ela veio de uma cidade pequena e lá as pessoas não tinham o costume de sentir umas as outras. aquilo tudo era só um valezinho por trás da montanha e sequer estava no mapa. era só uma estrada velha que continuava sem motivo ou postos de gasolina. tudo sumia porque tinha que ser. tudo tinha que sofrer algum tipo de ação externa. e tinha que mexer as pernas o tempo todo por baixo da mesa, inquieta. parecia sempre assustada. e qual a ocasião? nada. apenas havia conseguido um emprego como guia de excursões - uma merda, pensava, mas pelo menos pagavam um vale refeição generoso. penteou o cabelo e saiu do banheiro depressa; melhor que aquilo, não ficaria. jogou as blusas que estavam sobre a cama dentro do armario e o fechou. trancou: apenas as aparências importavam. não passou batom, nem sombra. era aquele monte de pele que sempre foi. era seu primeiro emprego de verdade, antes disso, somente horas como funcionária em um balcão de devoluções. estava farta do segundo lugar: ninguém nunca se lembra do segundo lugar. e certamente faria um desejo, de acreditasse nessa merda. haviam lhe dito que o homem era simpatico, e que ela o adoraria. em qualquer outro dia, esse pensamentos seria um record de desperdicio de tempo. então a mesma cara, de quem não se arruma para nada. queria simplesmente não ser, mas não dá. e como tudo que é muito grande, é impossivel manter todos os principios intactos: aparentemente estavam dando seu telefone em agencias do corrêio. tem recebido mensagens entranhas. recados cortados com linhas cruzadas e ruídos. não importava, não deveria estar a se destrair com tão pouco. não era linda. nem gostosa. a sedução era somente uma forma feminina de persuasão.
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