segunda-feira, 21 de julho de 2008

simplesmente sabe

eu queria tirar a minha cabeça e minhas costas. é, você cria uma imagem com o passar do tempo - alguns dias têm mesmo se arrastado. então eu a imagino, e ela vestia um terninho azul marinho e carregava um jornal no bolso de trás da calça. cabelo preso, óculos. uma penumbra de mistério. ela chega sempre por volta das nove, mas continua a trabalhar até as dez. suponho que ela tenha sempre muito trabalho a fazer e sua profissão esteja a lhe entortar os horários. assim, um tipo de executiva. ela disse que se imagina chegando em casa, e a mulher de sua vida a lhe esperar, de vermelho. ou então algo totalmente contrário. uma mulher que trabalhe, e que construa um lar com ela - disse que não vale a pena bater de frente para depois apanhar. tem que ser alguém que valha a pena para que a surra possa valer também. sinto certa aventura em suas palavras. disse que teríamos um apartamento pequeno, só para dormir - ou não dormir, ainda brinquei. ou então um apartamento enorme e, como ganharíamos muito dinheiro, pagaríamos alguém para limpar. ela solta um suspiro breve, como um espasmo, e diz meu nome duas ou três vezes, como se o espaço entre nós pudesse ser consolado por um instante. às vezes alguma coisa deve acontecer para que se possa colocar fé. ela me perguntou se isso tinha sido uma indireta, respondi que sim. o fato de não poder vê-la com freqüência acabou permitindo que a gente se conhecesse ainda mais - não sei, mas achei válido. a gente só precisa de tempo agora.

- eu trabalhando e você na praia?

do outro lado, ela ri.
perguntei-lhe:

- você não quer mais nada, não é?
- quero.

- quer?
- quero você.

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