terça-feira, 15 de julho de 2008

a cabine

é, achava mesmo que a janela de sabrina era poética demais. mas faria o quê? suas tintas ainda secavam no parapeito, breves e calmas. acalmava-se também. assim, uma calma por tabela: haveria de tentar se enquadrar de alguma forma. sua excitação havia passado e agora sim poderia se dedicar a outros pensamentos. tinha crescido naquele bairro, naquele beco e ainda não sabia nada sobre ele. nenhuma história ou aspiração. o mesmo bar de velhos - agora mais velhos. passara a maior parte do tempo dentro de casa, a escrever: mal teve esperiências. apenas algumas lendas desvendadas com a imaginação. crianças tendem a se cercarem por mistérios mesmo. não foi diferente com ela. sequer os jogos da liga de beisebol eram suficientes para que as lembranças se sustentassem: havia destruído todas. e que merda, não? a mesma infância tosca de antes. nem mesmo sofrida, tosca mesmo. infância com bonecas de pano entre os lençóis de flores e galhos finos. em meio ao quarto de nenhum outro irmão ou gato. nunca tiveram cachorro ou qualquer outro animal. haviam lhe convencido de que os animais deveriam ficar no zoológico. logico, pensava. animais presos são mesmo uma solução exelente. sabrina sempre quis ter um casal de passarinhos. aqueles canarinhos amarelos, que cantam fino e contínuo o dia todo. ela tem pensado sempre no nome que daria a eles, e pede sua opinião também. concorda, apesar de achar que chico e lola não são exatamente nomes para aves. acha engraçado. sabrina lhe olha uma vez e outra no intervalo das tragadas, conferindo seu corpo na cama, de forma a vê-lo ainda pousado da mesma maneira como havia sido deixado, minutos atrás. ana laura tem o corpo de um caçador exausto, contrariado por sua presa. contraído. arrastado por sua presa durante horas e por vários quilometros seguidos. olha de volta para ela. outra vez o momento da troca de sorrisos discretos: às vezes não se tem muito o que fazer - já haviam feito tudo. sabrina ajeitou a cortina, de modo a conter um pouco a luz que entrava. seu apartamento, a cabine, o albergue europeu, escureceu um pouco. seu toque de mistério estava em toda a parte agora. estava pronta. estava perfeita para ela outra vez.

Um comentário:

  1. Adoro chegar e ler seus textos sabia ??rs

    Agora que aprendi a deixar recado(anta neh) vai ser a "festa da Uva"

    bjusssss

    ResponderExcluir