estou a iniciar um texto. eu me concentro: e eu sei, eu vou perder um tempo. é como se fosse ter um filho ou fosse decolar, pular de um prédio. passo a ser uma extensão de mim. tropeço, como um bêbado. trago a embriaguez comigo. sou apenas um pacote de receios. sou eu, resguardo.
sexta-feira, 4 de julho de 2008
ambulante | 3
pisquei breve. minha cabeça balançou como se fosse se soltar do resto do corpo - e eu ainda de pijama xadrez, blusa cinza e justa. meias largas com dedos faltantes. aquelas meias de algodão grosso e velho que soltam tufos de fios pelo caminho. então, um par dessas. cochilei por outro instante talvez, ainda mais breve que o anterior. morri, não sei. estava mole. nossos braços e pernas haviam se entrelaçado tanto que eu estava a duvidar se ainda tinha membros que me pertencessem propriamente. olhei para a cama: sua cintura permanecia intacta no colchão. que merda, ela nunca mais vai voltar. pensei em ter que beber o resto do vinho sozinha. fumar o final do maço sozinha. deitar sozinha e esperar. maldita espera que se prolonga outra vez. fechei a cortina e cuspi no vidro: merda de vida. tinha algo no corpo dela que me deixava presa, que me arrastava para perto dela, que me gostava com ela. fui até a cozinha e nada: as mesmas frigideiras e cadeiras. ainda nada, a não ser o sereno que umidecia a janela. pensei, então, eu telefonar para o número que ela havia deixado. talvez não fosse uma brincadeira, talvez não fosse apenas o número de uma casa de esfihas - definitivamente estou a imaginar situações que não fazem sentido. fizemos tudo que havia para fazer e, mesmo assim, será que não percebe? estou louca para vê-la. eu já sou louca por ela.
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