sexta-feira, 11 de julho de 2008

cinco para as cinco da sexta

pegou um folha em branco em meio os rabiscos que havia começado naquela tarde. não sabe, mas sente falta de idéias novas. ou ao menos revolucionárias. esticou-a sobre a mesa de madeira maciça, já com algumas rachaduras e manchas das gerações passadas, e fez o desenho de um rosto. o rosto de uma mulher. postou-se diante dela, da forma mais elegante que poderia ter perante um amontoado de grafiete. olhou ao redor. talvez ainda fosse cedo, apesar do sol baixo que invadia pelo janelão à sua esqueda. uma claridade de por-do-sol já, como que cansado e feliz. lembrou-se de que ela havia lhe dito que pegaria o onibus às cinco e quinze, cinco e vinte no máximo. quer falar ao ouvido, mas não consegue. por que diabos haveria de ter feito piadas em momentos inoportunos? chateou-se, será? não sabe. assume não ter sido facil, uma vez que não pode cuidar de algo que não lhe pertence propriamente. não pode doar-se, sem doações imediatas. não pode dar a cara a tapa: está esgotada de levar esporros. outra vez, não vai se disponibilizar por completo. ainda tem medo de não conseguir conter-se, e acabar por aí, em partes. olhou novamente para a moça estampada no papel: ela lhe parecia ter um ar sereno e também vadio. merda, mais uma vagabunda? não vai aguentar. e nada de superlativos: odeia os superlativos. apenas adjetivos pobres de meia categoria. ela era mesmo linda. linda. LINDA. rabiscou cabelos e brincos. sobrancelhas, e então uma boca enorme, cheia de batom e sombreado. uma boca de mulher rica, que não tem tempo para nada. desenhou-lhe um rosto sem nexo. um nariz de parafuso. um nariz de nabo velho e amargo: um nojo. precisa falar-lhe. ligar-lhe. mas não, é estúpida demais. apenas faz piadas que a afastam. vai jogá-la nos braços da outra. nas pernas da outra. nas costas da outra. e que arrepios, que nada. não lhe toca as costas há semanas, está entre saudades e adoração, todavia, sua paciência pequena há de lhe gerar empecílilhos. e não que não tenha confiança nas palavras de boa noite, mas não consegue entregar-se completamente. limita-se por opção. a desconfiança leva ao delírio.

Um comentário:

  1. enquanto a desconfiança leva ao delírio, este leva aquela à perdição.


    as palavras são meras reticências das entrelinhas de cada um;

    basta darmos um ponto final e pronto.

    pronto.

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