quinta-feira, 3 de julho de 2008

ambulante | 2

assoprei meus ombros, de forma a me livrar do cheiro. notei: estava a agir em vão. então reclinei a xícara para perto da boca: deixei o café escorrer por dentro de mim, ainda que frio e doce. estava tomada por ele, e, ele, estava a me vasculhar. a confusão de lencóis me dava a impressão de que ela estivesse voltando. aquilo era apenas uma fase, haveríamos de superar. deixou o telefone para que eu ligasse, caso viesse a me preocupar. estranho: sou sempre muito tranqüila em relação a breves ausências. esperaria pela ligação dela. postei-me, assim, próximo à janela e afastei a cortina bordada em azul e cinza. esfreguei o pulso contra o vidro, de modo a desembassá-lo um pouco: eis um círculo em meio a sujeira e gordura impregnada na paisagem. a rua estava com aquele mesmo tom cáqui de antes. as mesmas folhas secas e os mesmos carros. a mesma moça a pedir dinheiro. o mesmo sexo esquecido como se fosse um centavo velho - aliás, guardo meus centavos em uma redoma: ainda vou construir um castelo de pequenos restos.
acho que me distraí. cochilei por um segundo.

Nenhum comentário:

Postar um comentário