estou a iniciar um texto. eu me concentro: e eu sei, eu vou perder um tempo. é como se fosse ter um filho ou fosse decolar, pular de um prédio. passo a ser uma extensão de mim. tropeço, como um bêbado. trago a embriaguez comigo. sou apenas um pacote de receios. sou eu, resguardo.
quarta-feira, 28 de dezembro de 2011
cartas de alguém bem perto | 3
sábado, 24 de dezembro de 2011
felicidade são horas? | 2
quarta-feira, 14 de dezembro de 2011
felicidade são horas?
quinta-feira, 3 de novembro de 2011
à ana | 16
domingo, 30 de outubro de 2011
à ana | 15
quinta-feira, 27 de outubro de 2011
a cabine | 6
cartas curtas de alguém bem perto | 2
pouca coisa nos faz completar.
quase tudo nos tortura um pouco.
pouco e nada nos basta.
agora para. para com isso agora, rita.
felicidade são horas | 3
terça-feira, 25 de outubro de 2011
eu me lembrei de você hoje, história
sábado, 15 de outubro de 2011
à ana | 14
que continua fazendo história sem deixar de nos construir a cada dia.
obrigada.
eu te amo.
quinta-feira, 13 de outubro de 2011
ana sobre o bom tempo | 2
quinta-feira, 6 de outubro de 2011
pedro e claudio
pedro! que bom que seu nome voltou a me ocorrer agora, pensei. pois que as pessoas que não tem nome são pessoas sem passado. eu entrei como se fizesse parte daquela luz, daquela poeira flutuante no sol. eu já tinha estado ali em outros tempos, cujo espaço entre os móveis era maior. seus olhos me afundaram? perguntei se ele estava sentindo dor. ele perguntou se alguma vez eu tinha sentido saudade.
-- claudio, nunca mais achei a blusa estampada, aquele que compramos no rio, lembra?
fechei e abri os olhos como quem não quer ver, não queria saber do passado em comum. e foi logo sentando na poltrona do canto, distante dos outros sofás. acendeu o baseado e esperou o som familiar do reencontro. era um cheiro familiar. pedi um trago, ou uma bicada (eu nunca soube usar suas gírias). ele me estendeu a mão e o espaço entre nós, antes abismo, tornou-se um vão. eu passaria apertado por lá, mas me contive e estiquei a mão em sua direção também. acomodei-me com a bolsa ainda pendurada no corpo.
-- não pedro, eu não faço ideia de qual blusa você está falando.
-- você só lembra do que realmente quer. senta!
então eu busquei um canto confortável no sofá xadrez, igualzinho de quando estive lá pela última vez. e a poeira da sujeira dos móveis gritava mais do que o café, mais do que eu mesmo. vai, pedro, pergunta logo! e pontuava a conversa, e burilava aos poucos. se disse que precisava conversar comigo, mas o que mais, eu pensava, teria de dizer? que tinha dez anos a mais do que eu, eu já sabia. que aquela noite derradeira, que os arranhões no corpo, que a mesma adrenalina que o despiu ou a entorpecência que o trouxe junto ao tédio foi o que o fez ir embora. eu já sabia disso tudo. acontece que o sofá era confortável mesmo assim, e genioso, fazia com que eu me adaptasse a ele. apoiei os punhos:
-- o que foi, pedro?
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parceria com dayane rodrigues,
do blog "palavras bambas"
link: http://palavrasbambas.blogspot.com/
talentosissima!
terça-feira, 4 de outubro de 2011
cartas de alguém bem perto
há listas mundanas, pessoas de tão longe.
há tanta gente perto que já não sei mais se quero.
há tanta coisa que não entendo,
ainda que tudo me inquiete.
eu me permito o esquecimento e a lembrança.
eu gaguejo um pouco enquanto falo
e tenho quase certeza que me encolho um bom tanto quando deito.
em ser razão, eu me estico.
ao ser paixão, eu fico, eu permaneço.
não sei ser só do outro, nem tampouco, toda de mim.
eu vivo sempre mais embaixo, no mundo das trocas.
você não?
domingo, 2 de outubro de 2011
felicidade são horas | 2
você já tinha pesado em passar a vida inteira no mesmo lugar? e qual lugar seria esse de dançar longe e tanto? foi por isso que nos sentamos aqui, márcio? você tem dançado durante a vida toda? eu também não. talvez sua disponibilidade me tenha inundado. e eu me deixei atrair, e me deixei inundar para perto de você. o que há proximo de nós agora? o meu cabelo feito onda, meu pouco sono, minha falta de coordenação... há uma proximidade tão desconhecida e tao familiar em você. você me segura?
márcio
você, menina, cuja beleza eu jamais poderia ter dito. tive que pousar meus olhos sobre você porque sua imensidão me puxava e me abatia os brios tempo após tempo. era claro que eu não havia dançado nada antes de você. não a este balanço, pelo menos. já estive aqui, mas este lugar é completamente diferente. você parece que se descola da paisagem, do banco, parece que te projeto no mar com a roupas voando ao vento. tenho vontade de pegá-la nos braços e sair correndo, ou como pássaro - bem rápido, que plana rasteiro e muito rápido sobre a agua. e justo de você que ora me dá a mão, ora me estende os olhos, noutrora balança os cílios e se encolhe. é você quem me convida para dançar. seu rosto é lindo. eu te conheço?
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texto baseado no conto de dayane rodrigues, "decupagem"
do blog: http://palavrasbambas.blogspot.com
link: http://palavrasbambas.blogspot.com/2011/09/decupagem.html
felicidade são horas
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do blog: http://palavrasbambas.blogspot.com/
link: http://palavrasbambas.blogspot.com/2011/09/decupagem.html
quinta-feira, 29 de setembro de 2011
é o bom tempo que convida a um passeio | 2
terça-feira, 27 de setembro de 2011
ana sobre o bom tempo
ana acorda. coloca o braço na poltrona, fecha os olhos e volta a pensar. de repente aquilo já tinha se tornado uma história - não dela, literatura, mas da realidade da outra. pois que para ela a mulher voltava a janela todos os dias, para ver o que pareciam ser fitas métricas, botões ou tosouras que alice, olivia ou clarice usava. sabia vê-la durante o dia, mas saberia ela imaginá-la quando escurecesse? o final da tarde não conta, não é escuro o suficiente. nada por volta das 18hs deve contar. então conta com o que vê, com aquilo que sabe contar e lhe cabe nos dedos. ainda seria preciso atrever-se, mas essa mulher era nova demais para ela. ainda vai mantê-la suspensa no ar, noutra janela, por mais três ou quatro páginas. este cenário de troca era diferente e tinha puxado ana de outra maneira. sentia uma vontade de voltar a escrever o tempo todo, e ao mesmo tempo que precisava fazer dela prosa, precisava vê-la atentamente.
ainda com os olhos fechados, sabe que o sexo durante a semana é infinitamente mais excitante pela falta de expectativa. a transa de quarta-feira, da segunda de manhã, da terça a tarde, do lanche que durou dez minutos. a intenção sexual do final de semana é sempre parecida demais, então pouco teria a falar sobre isso. o jantar, o filme, os corpos, o sexo. a quanto tempo está vestida? a quanto tempo não recolhe a toalha do cansaço e joga a toalha do banho? há tanto tempo, pensa ana.
é como o bom tempo que convida a um passeio
sábado, 24 de setembro de 2011
de quem que foi?
que se curva sobre o samba
como quem lê um poema
ri, mulher doida,
que esteve sobre perna bamba
amena e indócil
terrivelmente enorme
vi, mulher noite
que fiz um festim
mesmo em cetim pouco,
e riu muito
comigo
pra cima
de mim.
e vê, mulher moça
que não sei deixar de fazer prosa nem que tente.
segunda-feira, 19 de setembro de 2011
à ana | 13
ha alguma forma DE LHE falar que o amor que sinto por você vai além de coisa QUE SINTO, DE ESFORÇO QUE FAÇO, DE CAMA QUE DEITO. MESMO quando em TANTA CONVERSA MINHA E SUA NAO tivesse havido DITO NENHUM. HOUVE APENAS SEXO, QUE FOSSE. ERA TUDO QUE TINHA. MEU CORPO E SEXO oferecidos a você, A MULHER MAIS LINDA DO UNIVERSO MEU. VOCÊ. QUANDO TUDO HAVIA BRILHADO diante de ti, eu não vi o fim, mas eu vi o único recomeço sob minha chuva de folhas amareladas do outono que era você. uma mulher não houve antes de ti, entenda. houve apenas desenganos, passatempos inúteis antes de ti. o fim, se aproxima. o fim da vida. eu e você com cento e oitenta e dois anos. viveremos assim? sonharemos ainda assim, como meninas de uma vida infame, quase enferma, mas já sem doenças do corpo, sem crateras na alma, cheias ainda de coisas que te puxam e sonhos que te trazem, os mesmos cujos anjos trouxeram você um dia. não sei o endereço desta casa, nem mesmo memorizei a rua que você mora, mas saberia chegar ate você. não por caminhos, mas pelo teu cheiro, que cegamente me guia, ate você, ate a cama em que fizemos nós, em que recitamos nosso futuro, em que fizemos filhos. pois que foi na cama em que me trouxe rosas que eu me apaixonei... é, foi nessa cama que te esperei, não com os braços abertos, mas com a vida completamente entregue. tua casa é completamente linda, teus braços, sua blusa com botões pela metade abertos. abertos por mim, ou pela vida que veio antes, que fosse. serei eu a fechá-los todas as vezes. o passado tinha ficado em outro tempo, cujos esquecimentos eu só poderia perder a memória para lembrar. subi, gritei teu nome, te encontrei. e agora? a vida apronta para nós, não uma cilada, mas um cama.
POR QUANTOS ANOS ESCONDEU TEU TALENTO DE MIM, OU TEUS DESALENTOS? QUANTAS DUVIDAS TEVE ANTES DE EU CHEGAR? ANA, SOMOS UMA DA OUTRA. SOU TUA, MINHA. MINHA CUJAS PERNAS DOBRARAM, CUJOS BRAÇOS DOBRARAM, NAO NO GOZO, MAS NA MAIS ALEGRE EUFORIA QUE EU LHE PODERIA DAR. NAO ME RECUPERAREI DESTE AMOR. VIVEREI ETERNAMENTE NELE. DISPOSTA, FIRME, FRANCAMENTE. SOU TUA. ÉS MINHA.
quinta-feira, 30 de junho de 2011
sobre perdas & ganhos
perder é estar privado de alguma coisa, é deixar, é interromper a presença em alguém ou em algum lugar, é deixar de ser visto ou ouvido, é desaparecimento, perda de controle, de juizo, das estribeiras, do norte. quando a gente perde, perde-se a hora, chega-se atrasado com frequencia, perde-se tempo, esforça-se em vão. a perda pode ser também a perda da vez de fazer, da vez de esperar, da vez de ir embora. é só cuidado para que nao se perca a chance antes que perder signifique perder a vida. a perda também é recuo, mas é, acima de tudo, perder-se de amor. apaixonar-se.
ganhos
ganhar é adquirir, é ter lucro sobre alguma coisa ou sobre alguem. ganhar é tirar proveito, é fazer dinheiro. ganhar é alcançar vantagem, ou fazer sucesso, é vencer um debate, uma competição, uma luta, uma guerra. o ganho é a captação de recursos, o ganho de confiança em si próprio. o ganho é a obtenção pelo acaso, a loteria. ganhar é estender-se, mas é como o fogo que estende-se pelo edificio, o toma, e o desfalece em seguida. ganhar é atingir meta, é chegar cedo, é postar-se a porta. o ganho é progresso, é melhoramento. o ganho está relacionado a comparação com os outros. ganhar é ser mais vaidoso do que o outro, é impor-se mais que outro. mas ganhar, acima de tudo, a crescer. desenvolver-se.
terça-feira, 28 de junho de 2011
à ana | 12
segunda-feira, 11 de abril de 2011
quarta-feira, 9 de março de 2011
à ana | 11
ao carnaval de ana, em casa de ana.
em quantas festas quantas vezes você já se sentiu à vontade? há um estranhamento, claro. mas o que a principio não é estranho? então você começa a andar pelo salão: reconhece pessoas, desconhece casais, já não imagina o porque daquelas crianças. vê roupas, cabelos, vestidos horriveis, inadequação da moda. a beleza das festas tende a estar parada, e quando o seu olhar para: você a reconhece. em um canto, sentada quase ao seu lado, a beleza da festa, a unica beleza festiva possivel.
ah, ana! penso em tanta coisa. penso até em nossa geladeira cheia de suas garrafas de plástico cheias de água. queria ter-lhe escrito uma confissão, mas minha intuição só aconteceu agora que me deitei. estava esperando ainda que você saisse do banho. pois que hoje não vou acender a televisão, nem fazer musica, nem serenata: quase nada. hoje à noite, só o silêncio descendo aqui nesta casa-lugar. eu me casaria com você - não hoje, entenda - mas na vida. quem foi que te trouxe? pois que não me responda que foi a vida, porque eu já não acreditaria. eu dormi, mas naquela hora não. eu dormia porque era a sua parte anjo que falava, e era a minha parte anjo que escutava você falar também. eu me apaixonei outra vez. foi como se você buscasse na parte mulher o que sentia e de forma doce colocava as palavras organizadas em sua boca. anjo, que mexeu os lábios para falar de saudade na medida em que apressava o coração: naquela hora eu não tive pressa. porque mesmo que as vezes as nossas malas pareçam pequenas no mundo e grandes no quarto, eu voltaria para este sono infinitas vezes. porque minha cabeça tinha feito as pazes, depois fez as malas - naquela hora que tinha parado de fazer de conta.
minha recepção foi quase uma pergunta: o que você veio fazer aqui de volta, além de tumulto? respondi em pergunta para mim também: e como você tem estado sem eu estar aqui? você me vê indo embora eu já me vê longe? há quanto tempo, exatamente, você me vê de longe? eu construí um muro ou eu só tenho estado morando há quilometros de distância? você perguntou como eu estava hoje? eu também não quis saber.
ainda ouço, e ainda sinto as pequenas correntes de ar formadas pela sua respiração enquanto você dormia. estive presente. pus meus braços em todo lugar de nossa dança de sono. houve pernas de um lado a outro, você se lembra? e você me acompanhou em todos os passos - e mesmo eu, que bem pouco danço, me reinventei naquela coreografia meio sonho, meio saudade. pois que dormir abraçado, ana, não é deitar-se junto - mas é dormir e manter-se de braços dados, nos braços do outro não somente sobre o colchão, mas no compartilhar terno do sono. foi assim que você me encontrou? porque eu sei que minha alma emerge do corpo quando durmo e sai a te buscar na rua. foi assim que te encontrei? porque quando minha alma voltou ao corpo, depois do primeiro beijo, deitou-se calma sobre mim e disse: aconteceu algo. e essa frase, bem pequena e silenciosa, fez um eco dentro do universo inteiro - e você pensou, ainda que sem entender: aconteceu algo. é, aconteceu.
domingo, 6 de março de 2011
a história do homem mundo
quarta-feira, 2 de março de 2011
à ana | 10
segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011
à ana | 9
domingo, 13 de fevereiro de 2011
Texto de tempo de musica
Mesmo à frente, por quanto tempo você espera alguma coisa acontecer? E se você não sabe o que acontece, você põe suas pernas para fora mesmo assim? Tua alma já viu essa rua? Essas folhas já caíram sobre seus pés algum dia ou teus risos já desafinaram aqui? Teu violino ainda me espera? Espera por mim. É, espera por mim porque eu fui ali e já volto. Porque eu sei que te ama muito o amor que te espera.
E espera.
VAZIO. Trem vazio de nós. Caixa vazia de recados seus. Mensagens suas, bocas nossas vazias. Vazia de mim, é você. Espaço, divisão de coisas suas que ficaram aqui, em segredo. Seus cd's ainda em uma caixa, suas caixas ainda em sala minha. Minha vida nas caixas que sobraram vazias. Que sobra de ti ficou aqui? Aqui tem um sol, o único sol possível daqui que veio ocupar, sem matéria, sua presença. Você foi – ou ficamos nós, sós, em um tempo? Minhas borboletas voaram, e você, deixou suas andorinhas assistirem ao belíssimo pôr-do-sol de hoje? Qual é a vista do lugar em que você está? Ainda me pulsa você.
sambas defendidos com alegria
pedi um samba ontem, ao homem que desfilou aqui em frente. fosse a razão que fosse, fosse porque eu não cantava seus versos ou porque imersos estavam em mim outras palavras de canto, eu não sei. esse samba trouxe de volta nas saias rodadas o ritmo, a precisão que eu conhecia. depois, os dias continuaram a desdobrar a imensidão de alguém. e do desdobramento dessa possibilidade, foi que sonhei você.