domingo, 6 de março de 2011

a história do homem mundo

o homem mundo existe agora -
mas claro que sua existência exige muita insistência também.


pois que minha parte poeta também subiu até o final de um rio imenso, colocou os pés na água e depois os colocou para correr sobre umas pedras disformes de uma montanha muito alta. eu quase ri. não precisava de clareza para enxergar - o que poderia ser um motivo para tão rápida subida, não precisava de silêncio também, para concluir qualquer coisa que pensasse: não. era aquela subida a vontade de tocar o começo do céu - de onde cairam os anjos que lhe são companhia. para ver qual o gosto que tem as nuvens brancas sobre sua cabeça (ou até aquelas quase cinzas ou pretas); e para saber, enfim, que pensamento lhe rege a mente - saber que tipo de gente é, que pessoa vai ser dali em diante.

houve muito medo também, pois que essa parte poeta desconhecia a forma exata do inicio do céu. poderia ser aquilo parte de um inverno rigoroso, de uma primavera esquisita. poderia ser parte de um calor que o fizesse ficar sufocado, ou de um dulçor, ou de uma acidez intragável. temia que fosse feito esperança, e que o largasse esperando. mas dessa vez sua curiosidade não trouxe mágoas - e ele trouxe na ponta dos dedos um pedaço daquele céu tocado. céu que não era doce, nem amargo. que não era feito gelo, nem feito verão. que não doía e que não fazia doer também. o que fez foi um sorriso nele - já que ali era ele mesmo. aquele céu que via e tocava era o céu de toda imaginação que tinha. conseguiu pensar apenas que aquilo era uma bela invenção. e depois pensou em quanta demora poderia ter havido antes disso? há quanto tempo estava ali, e fosse como fosse, não tinha esquecido.

estava curvado, imerso dentro de si na vista daquele infinito próprio, em sua cabeça, sob suas memorias e a dividir espaço com as lembranças e o que poderia haver de sonho dali em diante. adiante, pensou esta tal parte poeta, que talvez encontrasse outra parte de poesia como esta que era. andar não custaria nada ali. aquele lugar era lugar nenhum, e tudo. era o homem dentro do mundo dentro dele, e ele no homem do mundo dentro de tudo. todo mundo era um mundo ali.

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