sexta-feira, 24 de abril de 2009

A cabine | 3

dos trechos passados a limpo:

(...) Continua sentada no banco do banheiro: está sentada naquele banco de banheiro há meses. Às vezes seu pensamento é do tipo de gente que se acomoda. E Ana Laura faz parte desta categoria com o mesmo orgulho que James carrega nos bolsos, e com a mesma sensualidade que Sabrina carrega no corpo. Assim, um círculo de vício. Porque o pensamento tinha que estar além do resumo de ler e de escrever. Precisava criar novas soluções – algum sentido na parte que se perdeu no caminho, ou na saída da escola. Uma parte que havia sido solta e que em algum momento tinha sido posta como desnecessária. E James sempre achou muitas coisas desnecessárias – ele achava que as coisas da vida social eram banais demais, que todos os assuntos eram banais demais. Não é fácil ser inteligente – então não precisava, por vez, por a prova sua inteligência, mas sim sua capacidade de pensar. Precisava concluir com mais determinação, já que ultimamente tem perdido o foco e tem deixado as idéias correrem soltas cabeça adentro. As idéias que se espalham entre os móveis da sala são de dura ordem. Necessita limites como quem necessita do vômito depois da comida. O conhecimento sobre os processos está se esgotando? Evitava comentar. Às vezes pensa secar como a caneta que usa, murchar como planta, sumir como pó. As letras acondicionam o caráter desbotado e somem na frente de seus olhos. Porque quando não há tradução de pensamentos, há crises. Era como se tivesse um bloqueio ao que pensa – e admira-se: formar conceitos é algo com que lida sempre. Mas o som e o sentido se confundem. Era pobre. Subalterna. Era nada, assim: o anti-climax. (...)

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