domingo, 12 de abril de 2009

o eclipse | 2

o que há de mistério no mar à noite? o que há em chão, em piso, que não se vê? pensava ser estranho falar de mar quando se fala de um leão e de uma coruja - mas a aridez não fazia exatamente sentido. então trocava os olhos: ao sol do meio dia não se vê olhos. a praia à noite era um grande corredor de ventos. se abrisse os braços ali, pegaria a orla para ela. porque o seu tamanho era uma contemplação - e as corujas não eram grandes mesmo. as corujas eram mensageiras, torneiras da voz da gente. a coragem era o melhor das virtudes às avessas: a cautela. se fizesse um recorte no mistério, aparentaria uma ignorância - então não o fez. há tantas implicações! porque o mistério vai tornar a perda do eixo. arrisca? arrisca. e então petisca. e se prepara - e bebe muito, e tomba o corpo. mas o corpo não desvia. não desvia olho, corpo, braço, deixa nenhuma. há quem não desvia nunca. nunca?

(silêncio)

poderia haver resposta. mas acontece que as corujas apreciam o silêncio do tempo. há quem se diga bicho do cansaço, e da preguiça. bicho da falta de pressa, e de euforia. duvidaria. por que o olho da coruja era perigoso? a coruja somente inverteria a ordem das coisas - e trocaria o dia pela madrugada. precisaria estar presente para isso. mas o presente é devasso. e as corujas tem olhos tangentes, pontuais. sustentar era difícil - e então vinha o leão.

imagina um bicho que chega de baixo, e fica enorme de repente. o leão só gosta da presa porque ela é presa - atacar a presa é quase vulgar, redundante. então imagina um leão que põe as patas nas orelhas e espera a surpresa da festa. há leões. há leões que são leões, e que ainda são gatos. para quem tem um olho enorme à noite, há a complicação de viver ao sol do meio dia somente com um risco de olho. imagina um leão que vira tatu? que some no dia, que só tem juba? não imagino - e não há porque trair a metáfora. o leão é rei, a coruja, mensageira. a coruja leva o tempo todo porque essa é sua função. o leão não. o leão tem um lugar todo para sustentar, um respeito, um medo todo dele para sustentar - e sustentar é dificil.

a curuja quer voar. há corujas que voam muito, e sempre. há corujas que não voam nunca. há aquelas que nunca voaram, e há aquelas que sequer nasceram também. então vem um leão com receio, que se aproxima lento e sempre, com as costas feito uma engrenagem de máquina. um leão cujas patas tecem no chão o caminho. vai ver a loucura é uma bravura também. então a imaginação traz um leão que pula, mas que pula tanto a ponto de esperar que alguém tire o chão enquanto ele salta, para que caia indefinidamente. ou então que lhe agarre no ar, enquanto ainda está no alto. decerto, só há a fuga. e se uma coruja está disposta a voar? não há nenhum registro visível de alguma que chegou lá. é mesmo inconsequente - e quase vulgar - esperar que um leão ataque. e a coruja é o pássaro da noite. da eloquência, vinha uma mulher que se dizia leão - com um cabelo que era um juba. e uma menina que era um coruja de olhos furados. porque a coruja tanto se enfeita que se fura os olhos.

há corujas que não vivem nada. o leão é a presa da presa. uma condição, uma torção de origem física. pois que para a coruja não há ordem, arranjo, não há nenhuma disposição conveniente. para a coruja não há cadeia. a coruja é o bicho dos recados - o leão, o bichos dos outros bichos. é, sustentar é dificil. então detesta o autosacrificio, o falso eclipse, as coisas práticas.

voar não é uma obrigação, é um desafio. já tinha infestado o sentido, e agora definia inversos. voltaria a quietude se não soubesse que duas hastes inversas podem invergar tanto a ponto de converigir. há uma impossibilidade no reino dos bichos. há bichos que não se aquietam nunca. há bichos que são incrivelmente fascinantes. há todo o tipo de bicho.

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