eu imagino uma mulher que sorri, e que o sorriso quase lhe rasga o rosto. imagino uma mulher que rola pelas escadas, que joga as minhas cadeiras, as minhas meias, que joga copos pela escada. ela fazia um show das coisas que voavam na minha frente.
eu achei que só chovesse em mim, porque o meu cabelo grudava na testa – e então vinham aquelas pequenas poças de água na minha camisa, na frente e nas costas. e eu via o cabelo dela ali, intacto. eu achava que aquilo era muita identidade em uma pessoa só. ela era tão importante que o bem e o mal saiam dela – pelo menos era isso que ela achava. e ela se colocava assim, imponente na inconstância das coisas e dos atos.
por vezes, tinha pensado em usar o telefone para fazer contato entre nós. não o fiz. o nosso contato ainda estava restrito no olho – e que olho mais ordinário eu fui escolher para isso! justo eu que sou homem de olho claro e que as bordas do olho de justas não tinham nada. eu era um homem de olho tão claro que quase era branco. e eu sei disso porque ela, a toda hora, me punha no espelho – e então eu refratava. quebrava a luz de tudo, a punha em mim, e depois espalhava. então vinha aquele clarão e ela soltava para mim todo o desalento que tinha: será que você não é capaz de se manter neste breu? não. EU não era. aliás, eu era completamente incapaz de viver ali. eu somente ESTAVA ali – e acontece que aquela não era a minha vontade também. a minha vontade era outra, e estava guardada. eu a tinha posto junto ao corpo que eu mantinha dentro desse corpo doente que tinha sobrado para mim. as mesmas coisas que eu segui, eu ainda seguia agora – só que em outro nível. meu olho tornava meu corpo pouco porque rebatia a luz que vinha aos montes. imagina um louco? era eu a me sabotar.
excelente texto.
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