domingo, 25 de janeiro de 2009

um pedaço

o movimento de erguer a taça era hediondo a tal ponto que me reduzia. o pior é que eu sabia que ela faria o brinde diversas vezes seguidas porque conhecia a minha memória fraca. eu precisava das seqüências da festa mais quatro ou cinco vezes depois do ocorrido original. eu percebi que o meu cérebro passava por uma lavagem, uma drenagem de idéias. a minha saúde tornava dúbia a saúde proposta no brinde. e o brinde duvidaria de mim que tomava água e que já não bebia alcool nenhum. eu sei, a gente vai se curvar diante daquilo que tem - ou ao menos do que deseja possuir.
ela trouxe até o meu lugar na mesa o meu prato. tudo dela cheirava a cigarro, até a comida que ela fazia. o cheiro me dava enjôo. engolir um jantar daquele jeito era um ato comprometido para mim - ainda por cima, ela fazia brindes. a sua companhia não me deixava. eu não precisava de louvor, não precisava ser bem-vindo - eu nunca tinha ido embora. a sua insistência era em um vazio. e ela sabe: a insistência dela vai criar uma demência estética.

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