domingo, 11 de janeiro de 2009

a estilhaçadora de copos

aquela janela fazia um olho em mim. as cortinas-pálpebras e as minhas próprias se desenrolavam sobre o branco do olho com aqueles cílios longos e grossos nas pontas. eu acho que sentia um cansaço, um esgotamento de dois dias intercalado por 50 minutos de sono. há meses não tinha a precisão para dizer: eu sei, hoje eu não vou dormir. tomaria ainda uma caneca de café se tivesse, abraçaria o mundo - não em três - mas em um dia. emendaria braços e pernas aos braços se pudesse. da sacada, disse: vê aquelas árvores lá embaixo? vê os morcegos que passam por dentro dela, dos galhos? eles pensam que estão no alto, que estão voando no alto - então eu cruzei os braços no parapeito, recuando um pouco o corpo e apontando o queixo sobre os pulsos - olha! olha para mim, vê como eu estou bem mais alto do que eles e eu nem preciso voar. - continuei - o que será que as pessoas estão fazendo agora? bolos de morango? traição? tampei os olhos, e apontei qualquer janela: tem um cara por ali que não pára de tossir. você acha que ele vai morrer? ALGUÉM ACHA QUE ELE VAI MORRER? você acha que você não vai morrer? vê como daqui tudo é longe e grande? vai depender do seu ponto de vista. o que você deseja ver essa noite? olha aquele prédio como parece pequeno e de fácil acesso!

eu tive a sensação de poder puxar tudo para mim como um tapete, que traz tudo, que engole tudo. ou uma toalha de mesa que exige um movimento rápido, mas, se preciso, impressionante. talvez um dia lembrem de mim dessa forma, a estilhaçadora de copos e louças - melhor do que ser lembrada por um unico copo trincado. o primeiro é o primeiro, o segundo já é parte do resto.

e quanto a mim? eu passaria a noite naquela varanda, se não fosse o tempo. mas você não entenderia. você teria que escrever PARA ISSO.

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