quinta-feira, 1 de janeiro de 2009

meu ensaio

O MEIO ARTISTA DE MIM

buscava os olhos e buscava no buscar os olhos no beijo. no beijo buscava os olhos porque os olhos eram uma parte importante do beijo – e da busca. buscava os olhos. mas olhos? aonde olhos? quais olhos? não sabia se os olhos que procurava ficavam a cima ou abaixo do queixo – engraçado, olhos abaixo do queixo, talvez nunca tivesse pensado nisso antes. porque a gente não deixa de existir, a gente simplesmente morre. você é o seu dejeto. a festa acabou, o dia, o ano. e não pelas pessoas que não estão mais, mas pela sujeira delas que emerge da calçada. e na vala do que sobrou na gente. porque as pessoas ainda estão ali, puta cidade cara de fim. porque tinha cigarro, chinelo, copo, taça, garrafa. lágrima que deixa marca e sorriso que não deixa. você é o seu dejeto. e então eu pude ver de tão perto aqueles olhos de objeto que tinha e pensei: minha ilusão é a própria da qual se compõe – porque a ilusão se recompõe varias vezes. e logo ele: imitador, ilusionista. meio artista. artista de olhos sem olhos. ou artista de vários olhos, várias mãos e pernas. artista de mim - ou da minha parte rude, mal cuidada. porque a minha parte da cidade era aquela parte toda esquecida. de céu rosa esquecido, vermelho esquecido, azul desbotado e sem nuvem.

Um comentário:

  1. a sua parte esquecida é oq vc lembra. sua parte rude é a que vc preza. aquela parte da cidade era o que lhe cabia, mas de fato não merecia.

    residuosguardados.blogspot.com

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