sábado, 3 de janeiro de 2009

tenha bons sonhos

não matei por amor - um amor desse não se prestaria a tanto. tenho saudade de escrever com as mãos e não só com a ponta dos dedos. eu, ou a quase adormecida de mim, aumentei um pouco a intensidade da luz do abajur. uma prestação baixa do meu serviço - e da minha profissão. ele continuava com aquele enrrolar de dedos, aquela irritação toda que precede o momento do sono. vai ver aque é assim que se sente um doente terminal. talvez minha voz já não possa dizer ou pedir para que ele se acalme, mas pode me aclamar, decerto. não sei qual traço de união há entre nós agora - vai ver que costuraram meus braços aos dele, e as pernas também. vai ver perdi um braço, um músculo, um pedaço das costas para ele. ali não era uma cama, era uma briga de dois animais brutos para sobreviver. e logo ele que cruzava os dedos no ar, que escrevia no ar como um louco, um desvairado. quando olho para o lado, penso: ele é um vegetal, um cadáver de homem! - talvez se o amasse mais já o teria matado; mas outra vez meu amor pouco não se prestaria a tanto. eu precisaria convencê-lo a morrer, e a me deixar. ensiná-lo a morrer direito e pela última vez. porque minha urgência agora era cuidar dos horarios, das doses, dos remédios (meus e) dele.

Um comentário:

  1. Procura a química certa.
    Sei, como se fosse fácil.
    Aceita um café, ao menos.
    Beijos.

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