estou a iniciar um texto. eu me concentro: e eu sei, eu vou perder um tempo. é como se fosse ter um filho ou fosse decolar, pular de um prédio. passo a ser uma extensão de mim. tropeço, como um bêbado. trago a embriaguez comigo. sou apenas um pacote de receios. sou eu, resguardo.
segunda-feira, 6 de setembro de 2010
o viés da mentira
eu já não reconhecia mais as suas roupas, talvez essa fosse a minha vantagem agora. se eu soubesse, eu não teria entrado - mas agora já foi. outra vez, as coisas vinham com limites para mim. se fosse somente eu, a entrar, tudo bem. mas era qualquer um. eu não reconheci as roupas, então por isso eu tive que cumprimentá-las, como roupas novas ou como roupa nunca vista antes - de um tratamento, de uma formalidade quase estúpida. foi como homenagiar alguém que não morreu, foi cumprimentar alguém com quem se está sempre junto. eu tinha mudado, mas nunca foi algo que me mudou realmente. eu parei de ir; e de estar, também parei. eu parei no mesmo lugar do cumprimento, no lugar do balcão, da escada. eu parei há oito meses atrás de um desamor. e o desconforto pode durar muito tempo; mas já não era pior - nem maior - do que tinha sido grave. se aconteceu assim, eu não sei. mas era assim que eu me lembrava. dessa vez, era eu quem acordava e decidia não querer mais. acontece que isso era tão elaborado, tão doente... que eu imaginava: quem será que está mentindo? era uma prática do auto-engano com o prazer de abandonar a si próprio. como se fosse preciso hospedar-se na narrativa do outro: você quer ser feliz, ou quer ter razão?
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é uma pena ser tão irresistível ter razão.
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