quinta-feira, 23 de setembro de 2010

à ana

porque a sexualidade do homem traz um rudimento que a mulher não tem; enquanto a sexualidade da mulher decorre de uma poesia a qual o homem não está acostumando, tampouco, entende. é preciso quantas mulheres em uma?


cheguei ali, proximo ao corpo mais próximo de mim, como quem chega de longe e se aproxima devagar. ana já falava muito. meu cumprimento caiu sobre seu rosto, depois os braços e então os seus braços, gentilmente, retribuiram a minha fala. ela disse que estava tudo bem. era terça-feira, e o tempo parecia seco. o frio dali não houve como deveria - no lugar disso, eu sentia um incomodo pelo calor. ana fez um desenho no rosto, como se houvesse uma inconformação naquilo que eu dizia. não fiquei surpresa, contudo - porque mesmo sem tê-la visto, eu já conhecia a essencia do seu discurso e agora teria que encontrar as palavras que o comporiam: e isso sim me causava muita timidez. ela era mais do que eu me lembrava. eu era aquilo que seria sempre? ana era linda.

e o que foram as horas, daquele dia, eu já não soube responder. porque eu não tinha ido até lá para esclarecer, eu tinha ido justamente para criar a dúvida, tão bela. eu me lembrava de ana, há muitos anos, em tempos cuja minha aparência não dizia nada. hoje, de roupas tão feitas do corpo que criei - ana me olha e, não simplesmente vê a mim, mas me lê, com aqueles olhos que ficam franzidos no canto... ah sim! o canto que há em sua voz, como se desenhasse o que fala para mim, e sua mania de olhar muito as coisas ao redor, ana dá peso às silabas que não teriam importancia nenhuma. então o meu encantamento batia justamente nesso ponto. porque quanta coisa poderia ter passado batida ou apanhada esse tempo todo, que tive que esperá-la chegar, sentar-se a mesa, pedir um copo para entender? o tempo é muito estranho mesmo (...).

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