estou a iniciar um texto. eu me concentro: e eu sei, eu vou perder um tempo. é como se fosse ter um filho ou fosse decolar, pular de um prédio. passo a ser uma extensão de mim. tropeço, como um bêbado. trago a embriaguez comigo. sou apenas um pacote de receios. sou eu, resguardo.
domingo, 26 de setembro de 2010
a gente inventa para caber
eu tinha um desinteresse em face de alguém, ou de alguma coisa. mas que coisa era essa que me pegava os pés à noite, e me carregava durante a manhã inteira? um domingo desses me poderia fazer esquecer a tarde? que antipatia eu sentia, tão impossível de controlar como seria irracional controlar os olhos abertos por horas. eu inventei uma semana, e me faço valer dela agora. acontece que eu tinha esquecido que a invenção era de sete dias, e não de seis. eu inventei um domigo para mim sem saber do cansaço que ele me causaria. porque este sim, tão inoportuno como ela, minha impaciência, era o primeiro dia e não o último, como posso te-lo classificado agora. são dias de chuva esses primeiros dias, são dias de inventar a atenção, de consumir a atenção em nada, são dias muito frio e de calores triviais. de livros lidos inteiros, de livros emprestados e nunca devolvidos, eu passaria semanas aqui. nenhum café hoje - porque acho que hoje nem beber café eu poderia querer. há uma irracionalidade nas paredes e nos pés das mesas. eu seria doente para viver hoje, pela possibilidade de aproveitar agora, de comportar-se na vida: mas nada é possivel em um domingo. talvez eu ganhasse doces amanhã, mas isso já seria coisa para o segundo dia da minha invenção. domingo era um dia de inventar dias, porque nada mais havia para fazer nele. muita gente é assim, inegociável. um domingo é inegociável. há muita falta de acordo em um domingo.
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário