segunda-feira, 9 de março de 2009

a ruína

era uma casa linda. tinha umas árvores secas desenhadas nas paredes brancas, em preto. tinha um ar de não pertencer a nada, nem a ninguém. era de todos. meu, seu. de todos nós. seu cabelo era um monte de raiz enorme que saía de sua cabeça. porque eles poderiam atropelar a mulher que ela continuaria a pregar saias no varal. não há modernidade nisso, são apenas maneiras. será necessário decretar o óbvio. eu teria que morder as paredes para isso. porque a verdade é um voto, e assume o carater de quem quiser. porque as tardes recebem meu medo, e eu tenho medo de não saber o que eu sou no tempo. eu tenho medo de ter, ainda, medo próprio. eu morrerei de medo? eu morrerei de medo. eu não aguento mais esses arquivos de mim. essas listas. essas senhoras de verde, a rodar pelo salão. esse salão. essa teimosia. essas promesas. eu tenho medo de não saber fazer nada. de perder a função, de morrer de fome. de não caber. de não sobrar. de não ter quando tiver que dar. nem doar. de não suar. eu tenho medo de não ter silêncio. de não ter barulho ou ruído nenhum. eu tenho medo de não ter as cores com que eu sonhei nas paredes dessa casa.

o que eu tinha era um declínio.
uma derrocada.

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