domingo, 22 de janeiro de 2012

izabella e suas metáforas sensivelmente reais

izabella e suas metáforas sensivelmente reais, foi assim que decidiu chamá-la. em metade de um susto, e tomada por uma pressa de viver, os pulmões pararam sob o risco do som agudo e fino de uma suposta arritimia cardíaca. houve um silencio sobre tudo até que a alteração da frequência dos batimentos fosse recuperando o curso, sem ser lento nem acelerado, simplesmente irregular, esse compasso foi voltando feito duas luzes que piscam alternadas e se encontram em determinando tempo, repetidamente. houve o pensamento de que o compasso desordenado de quem se apaixona põe danças inteiras sob pena de cairem no esquecimento. então desarmou-se. pensou que houvesse a ideia de flores belas demais no esquecimento, como dias intensos à deriva. pensa em azul. precisa recuperar o ar no impulso, ou ser jogada para fora, de um mar que já não traz nem leva nada. vai por as pantufas de quarto para trabalhar, os disfarces para viver. é tão incapaz das coisas difíceis! e nessa constatação, real e firme, sua voz começa a voltar, então aos poucos se descobre. desdobra-se como quem não sacode as roupas do armário há anos. mostra as palavras inflamadas, no espelho de vidro, nos olhos cujo calor aquece as pálpebras, que restaram como resta pouca saudade de quem ainda está vivo. 'ninguem se desfaz à toa'. sabe que são as inconveniências diárias que tornam indomáveis as chateações. mas os bichos só saem quando tem forma o suficiente para isso. então sente-se como um bicho de fora. bicho criado em casa que não soube ser cafajeste de rua. queria ser livre e original. mas a liberdade está presa a originalidade e não há originalidade nenhuma em querer ser livre. são apenas recorrências. e só há uma maneira de ter paz dentro de um furacão: se tornando um. izabella, que despertou metáforas sensivelmente reais nela.




põe um pouco os pés de lado, cruzados como se dessem um nó nas pontas. constantemente o escritor se propõe a uma dislexia imaginária. traz um cigarro a boca. há diversas noites que passa sob um desapego sem dó, mergulhada no universo da cama, sem nenhuma totalidade em relação ao sexo, a musica ou ao corpo. sente que está meio imersa em uma constante novamente, em busca de paixões nas quais pessoas demonstrem uma inteligência que verdadeiramente respeite. tinha sido interferência, e agora, quando solta essa fumaça tão densa, tão facilmente se dispersa junto. as interferêcias são as palavras ardias que não cabem na boca. 'as pessoas olham, elas observam você. isso não a incomoda?'. então leva as mãos até o ombro, fazendo quase "x" no peito, porque, no fundo, quer saber qual a textura do cabelo daquela pessoa, quer saber os olhos são tocaveis, se os ombros são largos ou se o corpo é estreito. desce correndo as escadas, tomada talvez pelo mesmo impasse de antes. 'eu caibo neste abraço?'. é assim que as coisas começam, com a facilidade da ideia de que as mãos tem de se encontrar sob pretexto de nada. os dias passam depressa, disfarçados de consolo e um pouco de fé. as dores unem mais as pessoas do que elas imaginam. é uma maneira irrisória de não estar sozinho, mesmo quando se foi deixado, quando não se está sob a pressa de ir. duas pessoas deixadas suportam, como ninguém, a outra num entendimento silencioso, de palavras sensivelmente reais, quase numa vergonha recíproca, numa nova fraternidade. izabella e as metáforas. foi assim que decidiu chamá-la.

Um comentário:

  1. quem dera fossem aves.
    http://28.media.tumblr.com/tumblr_lfc7gfMlFu1qa1j80o1_400.jpg

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