segunda-feira, 2 de janeiro de 2012

Ana e as festas

A JANELA POÉTICA
Ana e as festas.



A paixão do outro enraivece ao passo que a minha parece completamente íntegra. Eu não tive vontade de voltar para dançar com você, eu diria a ela. A dança é a forma mais imoral de aproximação. Na dança as mãos caem sob o juízo duvidoso do acaso, enquanto um se dilata e o outro se contrai, quase foge, eu tive vontade de voltar para ajudá-la. Ajudá-la a por o pratos em ordem, lavar as louças, jogar as latas, limpar a casa. O corpo tomba para o lado do outro, como pretexto de quase nada, ate que os dedos segurem cabelos e cintura. As mulheres tem inumeros lugares aos quais eu poderia me agarrar duante a dança Acontece que as festas rapidamente escapam do controle e, enquanto são o incomodo de uns, tornam-se o palco de outros. Eu tive vontade de cuidar, não de possuir; e deste zelo feito de posse, Sabrina parou a musica e apontou a porta. Seus olhos me consumiram toda. Eu nunca deveria ter chegado àquela porta com insistência – porque ali, quando eu saísse, no instante em que eu saísse, ela bateria aquela placa de madeira nas minhas costas, e subiria as escadas de volta correndo, desaparecendo da minha vista. Não coloquei o braço a frente para puxar seus cabelos, ainda que a minha vontade tivesse sido essa. Sabrina não dançou. Mas desfilou sua condição de mulher pelos cômodos da casa toda – não varreu o chão, mas sobre os tacos e rejuntes fez celebrações indígenas e reverenciou ao publico seu próprio cabaré [...].

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