terça-feira, 5 de outubro de 2010

para a ordinariedade do crime

o cinza era o intervalo do jogo, aquilo que era imóvel e morno: a primeira meia hora da briga ou os ultimos cinco minutos do sexo - então eu me desprendia. era preciso aceitar-se enquanto tempo próprio, de próprias medidas e peso. acontece que historicamente ninguém nunca seguiu um cronograma - e um encanto nunca durou muito. eu voltava às partes menores sempre. a despeito de ver alguém com algo que se deseja ter, o ciúme me atormentava - porque o descobri o avesso de mim, a minha inveja pelo meu zelo de amor que eu sentia. então, cujas pernas me prendi há tempos, perdi - e soltei os membros e não detive a queda. ao encontrar o chão, duas semanas depois, tomei café como um príncipe, ou como bêbado.

diz-se de uma coisa que pertence a todos: ser comum. acontece que comum enquanto familiar que se torna o rosto - como o crime torna-se comum à comunidade social. caso não houvesse o crime, eu desconfiaria da irregularidade de vê-la a minha frente com o rosto que se faz conjunto frente a mim de maneiras comuns e de muito valor. a maior parte era sempre o comum dos homens - o habitual dos homens, como o elogio de outros no ego, na experiencia dela em si mesma no contato de aceitação da realidade. quando torna-se comum o formato que puxam os olhos, e a projeção do rosto cai sob o crivo daquilo que se faz de forma ordinária - de qualidade já medida, mas nunca inferior. eu sentia uma alimentação cotidiana, uma musica ao passo de marcha. era preciso livrar-se do oposto depreciativo, da oratória falhida, da chatice do bom gosto.

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