terça-feira, 5 de outubro de 2010

para a ordinariedade do crime | 2

não é congruente viver na eterna insatisfação. porque a insatisfação, por si só, é incongruente. quando as coisas da vida banal ou do exercício do cotidiano se perdem, a espera pode ser ridicula quando grande demais. então, quando a conformidade lhe fizer bater os saltos finos contra o chão, você ainda me encontrará ali, como se fosse o último. porque há uma legitimidade em ser o último a ponto de que quando me deito no chão do passeio, existe um sábado inteiro que não dormiu e que passa por mim. eu era a máquina de um tempo cuja modernidade ainda não havia chegado. eu era o cheiro que não se reconhecia nos aparelhos de hoje, eu era a desconexa parte dos bronquios que adoecia. de fumante que era, eu era muito poeta também. eu pensava na doença como própria da minha alma, mas impossível do meu corpo. quando doente, eu adoecia sobre as partes que pensavam em mim - então eu tinha problemas de coração, de dor física nunca tratada. eu não tinha pedido por isso - nem para nascer com isso. acontece que no meio do caminho que eu fiz eu encontrei a possibilidade de me sentir assim. e eu fiquei.

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