O que eu sinto? Eu não sei, não tem nome ainda. Tem o tamanho de um gigante e a leveza bem doce de uma borboleta. Tem o tempo e tem pressa, tem pouca coisa a oferecer de imediato, mas muita disponibilidade de viver. Isso tudo não dói – eu posso mostrar a outra parte de mim – agora feita de um sorriso. Feita de você, que trouxe de volta essa parte minha. Eu sei, eu trouxe para ti uma parte sua talvez esquecida, ou cansada, ou talvez apenas morta de novo e de sono. O que eu estava fazendo, eu não sabia. Mas eu estava me movendo como um barco calmo sobre a água. Eu era um final de tarde, uma primavera inteira, um dia e todos os dias. Você é um verão inesquecível, uma manhã de inverno que se acorda com companhia. Você é o outono que caiu sobre mim, tão tomado de poesia e vida – tão cheio de milhares de cores e forma, tão infinita nos cheiros e no tempo. O importante é que eu estou bem, que você está bem, que nós estamos vivas. Há um infinito não desenhado no meu corpo também. Um desenho que me sobre dos pés até o pescoço, os braços, os dedos, as unhas e os cílios. Agora eu não sou mais breve. Há em mim uma ampulheta deitada também bem no meio dos meus olhos, nas pupilas, num lugar em que o tempo não acaba, num lugar em que as coisas não param. Ou se param, indefinidamente voltam a flutuar, e cirandam sobre nós. Nós somos eternas agora. Você está dentro de mim, derramando seu tempo e corpo – e eu estou sobre você, como envolvimento. Eu estou deitada sobre você, sente minha alma? Meu corpo se estica também. Eu sinto teu peso de corpo e respiro de alma. Agora eu tenho ar para respirar aqui.
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