segunda-feira, 8 de março de 2010

eterno presente | 6

uma cartase me contemplou agora; embora achasse isso contraditório. eu queria imaginá-la em uma situação sem a intenção degradante da fala - quando ela gritava, isso era possível. então eu voltava às nossas danças sempre. eu voltava ao ruído do jazz que era ela. eu voltava para o oscilação, para o balanço que ela tinha mostrado para mim. eu ouvia uma música contínua que ora me dava luz, ora me apresentava o breu. porque o jazz era isso: a tensão e o relaxamento; assim como a entrega passional que vai da extrema euforia à melancolia profunda. eu sei, eu a conheci. foi ela quem fez o samba do começo, quem torceu muito os braços e trouxe a alegoria toda com ela. ela não projetou riso em mim, não depositou nada porque o verdadeiro sorriso já não traz movimento nenhum. por isso, talvez, que eu entendia que o seu exagerado balançar de braços era uma intenção vazia, heroicamente vazia, para impressionar. eu voltava ao jantar calmo que tivemos, a calma que tivemos em tempos bem mais interessantes do que estes. porque eu esperava por uma nova intenção que fosse regada pela sorte. eu tinha optado pela arte, acontece que agora estava entregue ao acaso. ela era o acaso.

Nenhum comentário:

Postar um comentário