estou a iniciar um texto. eu me concentro: e eu sei, eu vou perder um tempo. é como se fosse ter um filho ou fosse decolar, pular de um prédio. passo a ser uma extensão de mim. tropeço, como um bêbado. trago a embriaguez comigo. sou apenas um pacote de receios. sou eu, resguardo.
segunda-feira, 8 de março de 2010
eterno presente | 4
queria pensar em tempos de maior racionalidade. em tempos menos quentes, mais desgastados. antes tivesse surrado completamente o hábito, ou tivesse tornado o vício irretornável. porque agora eu não conseguia mais olhar para ela sem ver tudo que a envolvia também. gostava dela antes, quando ela ainda reclamava - alegoricamente, eu lhe punha sorriso nas fantasias. hoje, talvez, eu a prefica calada, a tornar a espera um pouco mais sábia. porque se me perguntarem quem foi gabriela, eu direi que gabriela foi uma mulher que não calou a boca, nem fechou as pernas. uma vez feita dela ficção, ela já não poderia mandar na aventura que insistiu comigo, daí a necessidade de torná-la escrita tão rápido, de não perdê-la de vista. de não parar muito em seus olhos: ela seria o meu próximo trabalho. como marcela, se descoberta, ela deixaria de existir. eu imagino que a mulher dela era um bicho ainda maior que o meu; e a sua preguiça era imensa, imersa em tanta vaidade. eu penso na beleza do rosto dela, e me cai sobre a lembrança uma martelada, uma britadeira que não pára nunca. assim como no instante de criar marcela, gabriela já tinha me tinha feito perder muito o sono na discussão minha de pequenos desprazeres com ela. não me tornará mais sábia a sua volta, nem menos feliz o seu encanto. eu me encolhia no seu encanto, ao contrário dela que se esticava na minha presença com outros. a sua beleza não precisava ser contada porque eu a via com clareza. porque eu a gostava, agora, sem todas as ironias com as quais tantas vezes gostei. de certa forma, tudo estava perfeito agora.
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