sexta-feira, 5 de setembro de 2014

O amor não se parece com nada

frase-se comigo.

Não é como a vida, breve; nem como a morte, temerosa. Não só como amigo; nem somente adversário. Não é primo, de rasa intimidade; nem pai de tanta ausência. Não é como mãe, nem como filho bastardo. Não é como beijo, nem como sexo que se dá a qualquer um. Não é como a sorte, que passa; nem como a dúvida, que submerge. Não é como doença, que só almeja o fim; nem como métrica, poética, ideal. Não é como xadrez, que vence o rei; nem como fábula, que sempre se salva alguém.  Não é como dor infundada, vai e volta, de nada a nada. Mas isso, também, não é como sonho, quase impossível; nem como a verdade, bem discutível. Não é só como a solidão de alguém, nem como a saudosa carta que não chega. Não é como prosa, como monstro, como sombra nos pés costurada. Não é frase indevidamente citada, prato quebrado, leite com talho. Não é gato em cima do armário. Não é faca que perdeu o fio. Não é o próprio frio, nem um maltrapilho qualquer. Não é o que se quer, nem o que se deseja; porque não é como inverno, que mata sob a neve; ou como calor, que queima toda a pele. Não é retrógrado, nem moderno. Nem de perto, seria só terno. O supor, calma, causa falha. Mas isso, a que não se parece com nada, tomba um pouco mais pro lado do eterno. Talvez seja como Deus, de facilmente negar e depois, primeiramente recorrer. Num choro, num coro, mais ou menos calado, eu - mulher - humilde, trago pra perto o tal dito. Eu o vigio; eu grito, veja!, e, ainda assim, com os mesmos drinks diante dos mesmos sonhos, o tal "isso" não se parece com nada. A toda hora não se parece com nada. Em nenhum lugar se parece com o nada. O amor não se parece com nada. 

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