desejava ir embora. queria ir embora para longe com ele até aquele lugar sereno em que ele se sentia bem. porque agora o efeito do remédio, do chá, do cuidado todo em relação ao resfriado eram necessários. se os defeitos agora a humanizavam, e ela admitia o refúgio. porque ela estava disponível e ele se sentia perdido. já haviam feito aquilo tantas vezes antes, mas dessa vez em particular, não sabia porque beija-la: o desejo tinha perdido significado também. não sabia em que lugar segurar o corpo, nem em que lugar soltá-lo. porque o que lhe ocorria era um desconforto em ralação ao corpo do outro. e ele lhe parecia imóvel: igualmente sem jeito. já havia comentado sobre isso antes, mas não havia recebido nenhum detalhe também. então voltou à mão mais uma vez, como se tivesse ganhado mais um pouco de confiança. estava certa daquilo – e estava certa da CONDIÇÃO que a situação tinha colocado, finalmente. ana Laura passou os braços de james em volta de sua cintura e curvou-se ou pouco para trás enquanto o corpo dele tomava espaço. a proximidade do corpo todo logo tomou o conjunto todo também: as pernas, as juntas as bocas perderam distância na sala. passou a sentir a respiração dele sendo retomada e o ar quente que deixava seu corpo fazia o corpo inteiro dele ganhar calor também. james segurou o corpo dela com força, a fim de não deixa-la perceber que tremia um pouco. ambas as mãos estavam geladas – talvez todo calor já tivesse sido trocado. ana Laura aproximou um pouco o rosto e deixou que uma pequena fenda caísse sobre os lábios. pensou em dizer algo, mas desconhecia a razão daquilo tudo. porque a situação falava por eles. e a situação gritava e imperava por seus corpos juntos, justos, sobrepostos um ao outro. o beijo dele que veio em seguida tomou-lhe a boca em surpresa. talvez não tivesse mais lábios para aquela paixão. o corpo curvou-se mais e ele praticamente a ergueu pelos braços. o corpo dela deixou um suspiro e um respiro longo depois. o fim do encontro das mãos ou do deixar dos olhos no chão tinha acabado – para a entrega do corpo não há reversão. se o amor fosse de fato uma guerra, não lutaria mais. porque tinha largado as forças ali, tinha deixado as forças no outro. fizeram amor como quem faz do amor-próprio um desapego.
james a deitou e em seguida deitou-se sobre ela. seu corpo a cobria como um cobertor, como uma capa pública daquele corpo. o pulso do coração acompanhava um ritmo igualmente descompassado. estavam postos um ao outro. era como se ela tivesse nadado muito, e agora conseguia deitar-se com ele e contemplar. agora poderia abrir os braços na praia, ou flutuar indefinidamente. a alma que emergia do corpo talvez fosse uma onda fina, uma nova onda. a alma era um segmento de conquista do outro. oara James, a boca era o topo do corpo – o gargalo do corpo do outro. estavam deitados feito uma fração – e o que pertencia a ele já não lhe admitia exclusiva posse: e ela se deixava para ele com igual confusão. o que acontecia era que os corpos tinham adquirido uma forma única – e não havia dimensão suficiente para estabelecer o começo do corpo dela e o final do de james. era apenas um par de olhos e de pernas. apenas dois braços e centenas de dedos. apenas eles.
(03 de julho de 2009)
É como uma dança, eu recentemente perdi o fôlego dançando.
ResponderExcluirNó, seu texto me fez chorar, muito lindo!!
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