terça-feira, 8 de junho de 2010

à estribeira

A CARTA DE NÚMERO TRÊS:

não que eu não lembrasse mais do seu rosto, mas a beleza sua já não é a mesma de meses atrás. penso que essa nova beleza tenha vindo com a idade mais recente. eu ainda me lembro de você, junto a beleza antiga de quando a conheci, que me mandava sempre, e que me pedia para esperar até essa idade chegar. eu teria esperado, que fique claro. eu teria esperado até este seu aniversário. hoje, a beleza de uma cabelo já tão escuro, de um rosto já tão parte da fadiga - a pretexto do importuna rotina de trabalho que lhe cabe agora - eu me lembro novamente daquele mês cuja beleza sua, já tão confusa em mim, dispensava o sono a trocar por conversas que se jogava fora. a gente sempre espera amanhecer para ir dormir agora? eu imagino quantos costumes foram perdidos nas desfeitas que a gente fez, e às tantas caras feias, a homenagem da perda do sorriso seu em um céu tão lindo que era o seu rosto. eu tenho saudades de escrever para você, de torná-la prosa, de torná-la rima como rima sua eu era, tão sua também do samba que era nosso. e que danças, pode-se lá saber, ficaram perdidas nesse tempo? quanta bossa, quanta valsa sem par, eu imagino. e quanto balançar de ritmo nunca feito, sem letra? eu teria que ter uma história para compor - e recompor para mim, tanta falta sua. tanto me perdi, que procurei você em cada canto a pretexto da intenção de encontrá-la em um assobio, e em uma melodia qualquer retomar o trato que fizemos (de esperar o tempo descuidar do resto). que descuido, penso agora. da imaginação que te trouxe, ao tédio que te fez me visitar outra vez, a curiosidade que tão rápido te atou os braços e te levou longe, em um lugar em que o teu olho já não me permite o brilho. no lugar em que o esforço dos homens quer fazê-la feliz - onde a felicidade não se admite; e, na não existência, insisto em visitá-la sempre. insisto em tornar a casa, em retormar-lhe o desenho do rosto porque você não foi embora. então, talvez, a minha cautela já não se aplique a beleza sua que eu vejo hoje - mas aquela beleza, tão imensamente dilacerada, há de voltar a seus olhos. e eu hei de chamar-lhe sempre até o máximo da minha prematura intenção com o mesmo gostar prematuro que você deixou para mim, meses atrás.

Um comentário:

  1. eu dou reload todos os dias pra te ler.
    nao postarei mais como anonimo.

    ResponderExcluir