segunda-feira, 14 de junho de 2010

todos os textos do mundo | 2

O CAPITULO DA FAMILIA DE SABRINA:


os pais de sabrina ainda moravam na mesma casa em que ela e os irmãos tinham sido criados. os mesmos móveis, quadros, sofás e talheres. as mesmas cadeiras, toalhas, sandálias e frigideiras. a mesma árvore do lado de fora, ainda seca e sem frutas. mamãe estava doente desde quando a visitara, no ano passado. sabe-se lá o que tinha, mas o mal deveria estar se arrantando pelos meses e ela parecia estar acostumada aos remédios e a sensação ruim que eles traziam. sabrina evitava voltar para visitá-la - não por mamãe, em si, mas pela falta de graça das lembranças que ainda existiam ao redor da casa. queria trazê-la para se tratar na capital, lógico que queria, mas mamãe se recusava. então sabrina evitava visitas porque assim evitava ser convidada para morar com eles outra vez. se continuasse indo uma vez a cada dois meses, como fazia no começo, eles iriam sugerir para que ela voltasse. e quem insistia era papai - afinal mamãe já mal saía do quarto. papai estava aposentado há oito anos, mas tinha voltado a trabalhar por mais dois quando sabrina resolveu se mudar para a capital. era a única filha, afinal, a única filha menina. os outros poderiam seguir por conta própria, mas sabrina não: ah, não sabrina! sabrina era independente, não exercia profissão nenhuma, fazia a própria comida. nem sempre os pais entendem isso. lavava as próprias roupas, enquanto os irmãos tinham empregados até para dobrar as pontinhas do papel higiênico. esse tipo de hábito era esquisito demais, pensava. jamais conseguiria ter alguém para lhe servir o jantar. não se imaginava jantando com oito tipos diferentes de talheres. gostava de comer alguma coisa na sala, com um pano fino no colo - que ela mesma tinha bordado naquela única aula que tinha feito - e só. então dentro do seu apartamento apenas cabia ela mesma. cabia perfeitamente sabrina e ninguém mais para ficar circulando por ali. bastava james que dormia uma vez e outra. bastava ingrid. bastava os montes de roupas que tinha. então, dentro dela, bastava seu gosto pouco refinado. é, nem sempre os pais entendem isso.

(26 de junho de 2008)

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