"the girl with the cat in her eyes" |
MEMÓRIAS DE UMA DATA ESPECIAL
a data especial é como bandeira fincada na face da lua. é estrela cadente no olho do furacão. a data emblemática é marco-postal de um encontro revolucionário na estrada de terra por onde se espreme a ordem da vida. indica o dia que aconteceu o que ninguém pode prever, nem atestar. nesta data estão as conversas intermináveis e os diálogos imperfeitos, as primeiras disposições da alma, os recados escritos em guardanapos que vieram depois, também estão lá; na data, está a historia das pessoas que amam inteiro e das que mostram só metade. do amor que desdenha, mas compra. a historia de quem chega ao êxtase. de quem parte do zero. de quem vem com as asas quebradas, a história de quem nunca foi ensinado a voar. a história de quem presenteia com um disco de lançamento, de quem assiste a um show, de quem traz suvenires de uma viagem, de quem canta florence a noite inteira. é a história de quem demora pra se despedir, mas tantas vezes chega atrasado e sem cumprimentar com beijos. de quem bate a porta do carro na briga, pega chaves de volta, de quem se omite na segurança da imaturidade. a data traz a história das paixões que balançam pêndulos dentro do coração, mas são incapazes de garantir entrega na festa na intimidade. a história de casas cheias gatos, de sonhos cheios de planos, de dias cheios de mágoas e de solidões que se ampararam enquanto puderam. a história dos clichês mais óbvios, das terapias mais doloridas, das saudades que estrangulam. essa data é também a história provando que existe amor que falha, mas ama; que o passado é o algoz da memória e a memória é o algoz do futuro; a história mostrando que impossibilidades não são faltas de amor muitas vezes, mas de jeito. mostra que querer não necessariamente significa possuir capacidade alguma, e que ter poder não quer dizer nada diante da felicidade do outro. a data notória mostra que muito frequentemente as cartas endereçadas não chegam na hora certa, que as palavras nem sempre estão dispostas a aguentar aquilo que quem as escreve está disposto a se propor e que certas coisas não são objeto de contrato. mostra que o tempo passa impaciente e raras são as vezes em que é possível notar isso. essa data mostra que estar apaixonado não é uma condição de passagem, mas de pré-requisito de embarque. mostra que a companhia idealizada não é exemplar como se imagina, e que em todo momento pode-se escolher se isso é sinônimo de humanidade ou de fator insustentável. mostra que o erro vem da imposição com a mesma força que a imposição vem do erro e que essa bandeira cravada na memória é, enfim, como reflexo atrás de todo espelho, um nódulo da própria história de quem a protagoniza; que ela é o marco zero de toda continuidade, o ponteiro da bússola apontando pro norte abstrato, uma singularidade, uma essência inevitável. de nós.
28 de junho 2016
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