lars von trier. |
O amor é um segundo através do qual a avidez da morte se
anuncia. Acredito que na disposição justa do raciocínio, a morte apareça como ave noturna, de rapina, garras afiadas e fortes diante da vida. Talvez só
discuta o que tem valor; mas certamente nunca é vã. E diante do amor manifestado, proferido por condição
única que meu espírito impõe, devota-se por trivialidade, por sobrevivência e nobreza.
Acho que é como se a morte se curvasse ante esta beleza. E este amor, por fidelidade ao coração que pratica ato
categórico e não de mera contingência, revela sem desmerecer; eleva sem deixar
de ser humano; e ampara até à beira da atrofia, sem nunca deixar que ela
aconteça. A presença da morte é que permite o verdadeiro ato zeloso do amor. E ela, mesmo
que à deveria de definição mais acadêmica ou mercantil, é na realidade,
qualquer mínima ideia efêmera de iminente perda que eu possa ter. Só amo o que posso perder, mesmo que por imaginação de fantasmagoria impossível, por onirismo, por
ser ocasionalmente cética. Mas quem não é? Por isso, todo esforço praticado neste amor é comovente. Por sua
ingenuidade. Por crer que não morre.
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