segunda-feira, 2 de fevereiro de 2015

entre nós

insight compartilhado #1
um pouco de perfume sempre fica nas mãos de quem oferece flores | provérbio chinês


primeira parte | tudo que existe no mundo serve para nos afastar.

tudo que existe no mundo serve para nos afastar. como uma memória que é fácil de ser posta longe, o interesse no tempo arredio e solitário que vivo - a única forma que decifrei para frequentar lugares e ter amigos - de repente assumiu a posição contrária. a princípio, quase subjugando minha inteligencia que desacredita no acaso, veio até mim após sucessão de acontecimentos patéticos e até comoventes que me trouxeram até este momento determinado.

o espírito da contradição de toda crença é, justamente, lidar a todo tempo com seu próprio objeto de negação. um ateu falando de deus.

pois que lá está, no rodemoinho incessante das relações, um modelo fiel, possível, segundo a regra, de um rosto que pode durar um tempo. em pausas curtas, minha respiração tenta suprir-se, embora urgente-se para perceber sua distinção sobre os demais. é o pouco de batom que foge a margem do lábio? a lantejoula no chapéu? o fio de cabelo curto? a camiseta do hard rock café?

entre o encontro e a divergência, entre a ficção e a realidade, sinto-me fixa, disponível não apenas para ver, mas para olhar pela segunda vez.

existe sempre o entusiasmo da primeira semelhança, o pavor da segunda, e a coragem de descobrir a terceira - ou a centésima. sinto o mundo como um corredor de portas sempre fechadas, já que a vida parece acontecer apenas dentro de casa, na penumbra do tungstênio comum, no retraimento.

seja na solidez de um cubo de gelo na dose de whisky ou no vaso sobre a cômoda cujas flores balançam leves, a vida põe-se em boa ordem e está disposta a acontecer. nada está parado. o vento canta.

quero ir em frente.

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